quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Conversa de universitários


    Dois amigos estão no campus de uma universidade, sentados em um banco, conversando sobre pensamento.
    – Acha mesmo que um padre acredita na existência de Deus?! – diz um deles.
    – Talvez sim – responde o outro. – O seminário é uma poderosa ferramenta de lavagem cerebral. A consciência dos pobres “estudantes” é modelada de acordo com o que a Igreja quer que eles pensem. E a filosofia, que deveria ser chamada de filoeclésia, é do tipo que não dá liberdade para o aluno questionar o que aprende. Ele pensa que está estudando, mas na verdade está somente aprendendo a repetir. Isso pode fazer com que ele continue achando, de modo alienado, que existe mesmo um deus.
    – Mas é preciso o seminarista ser muito idiota para não ir além do que aprende dentro das quatro paredes do seminário e não ler filósofos de verdade, como Nietzsche, Schopenhauer, Sartre, Descartes, etc. Apesar de ser uma escola de formação de padres, não deixa de ser algo relacionado a algum tipo de vida acadêmica.
    – Não sei bem... Acho que os padres acreditam mesmo em Deus. Já viu o jeito como eles falam, como se tivessem certeza do que estão dizendo?
    – Caro amigo, ter certeza do que dizemos é a maior prova de que nada sabemos sobre o que estamos falando! Você bem sabe que a coisa mais cética do mundo é a ciência. Já viu um cientista falando em tom de certeza?
    – O que dizer, então, dos bispos e dos papas? Esses, sim, têm muitos anos de estudo...
    – Bispos, cardeais e papas são mais ateus do que Hitler e Charles Chaplin juntos! Não me diga que você acha que Sua Santidade acredita em Deus?
    – De modo algum! Um padre, vá lá, mas os papas são mesmo ateus, sem dúvida.
    – Quanto mais um clérigo estuda, mais ele passa a falar de Deus sem o virtuoso tom de certeza. Fica mais “científico”, mais racionalista, menos tagarela. E sabemos que, quanto mais alto se está na hierarquia eclesiástica, mais privilégios e dinheiro você ganha e mais mentes burras manipula. É preciso fingir que acredita-se em Deus. Uns fingem melhor, outros não fingem tão bem, e por aí vai. Mas mesmo fingindo mal, aquele vestido que eles usam é bem convincente!
    – Chama-se túnica.
    – Amém.
    – Já pensou se um padre ou coisa parecida ouvisse esta nossa conversa?
    – Se ele a ouvisse, simplesmente não iria se permitir acreditar no que estamos dizendo, inventando ou se agarrando a qualquer argumento formado para fugir da realidade que a arte de pensar nos traz.
    – Vamos para a sala, já é hora. A aula vai começar.