terça-feira, 26 de junho de 2012

Aprendi com Nietzsche


    Nietzsche educa os seus leitores para uma postura crítica diante do que é considerado “valor absoluto”, ensinando-nos a duvidar do que é tido como “verdade inalterável”, por isso, dificilmente veremos sua filosofia sendo lecionada em escolas de formação de padres (seminários). Nietzsche traz estudos que são completamente opostos aos da patrística. Bem sabemos que Santo Agostinho tem forte base platônica e socrática. Uma vez que nosso filósofo critica Sócrates, está indo contra tudo o que defende a existência de uma moral baseada na metafísica. Por isso, o cristianismo e todo tipo de crença no sobrenatural passam a ser vistos como fatores que nos impedem de ser o que realmente somos, impossibilitando nosso desenvolvimento como pessoa. Por conseguinte, fica a questão: por que uma escola de formação de sacerdotes impede seus alunos de estudar o conteúdo das obras de Nietzsche? Será que ela reconhece a fragilidade da própria moral que ensina e tem medo de ser menosprezada pelo pensamento do filósofo alemão? Que escola é essa que esconde dos próprios alunos as várias faces da disciplina de Filosofia, detendo-se apenas nas filosofias eclesiais?

    De fato, o objetivo de toda e qualquer religião é impor ideologias, fazer com que um “rebanho” de fiéis pense de um mesmo modo, preso a dogmas e rigidamente educado para ter uma opinião formada sobre os acontecimentos da vida. Essa opinião é, na absoluta maioria dos casos, conservadora, que pretende impedir o progresso mental das pessoas, sendo obstáculo para avanços na forma de pensar. Em verdade, toda religião é fundamentalista – umas mais, outras menos. O filósofo alemão que estudamos tem toda razão quando pretende desmascarar as atitudes dos religiosos, e o que se vê depois desse desmascaramento é algo tão sinistro que os próprios religiosos não querem acreditar no que estão mergulhados.

    A questão da moral, do modo como é abordada nos estudos nietzschianos, provoca em muitas pessoas certo assombro que faz com que elas atribuam ao filósofo algum tipo de insanidade em seus conceitos. Isso se deve ao fato de que as pessoas estão tão acorrentadas a um conceito de moralidade que não concebem diferentes formas de interpretação do mundo. Nietzsche é genial ao desmascarar o homem, afirmando que a moral, assim como Deus, não passa de uma invenção humana. Crença em divindades requer fé; fé não passa de um tipo de convicção cega e, como diz o próprio Nietzsche, “As convicções são cárceres." Por isso a crença em seres sobrenaturais é algo tão fácil de ser difundido, por ser convicção cega, que acaba gerando grandes e eficientes discursos sofistas com o único objetivo de atrair seguidores. É o que fazem os pregadores de todo tipo de religião. Sendo assim, a moderna filosofia sempre estará longe da boca deles e será fortemente criticada por ensinar o povo a pensar até o limite do pensamento.

    Apesar de tudo, a filosofia de Nietzsche está entre os escritos mais lidos em nosso mundo atual. É adorada pelo povo alemão e por todos os que se dão ao trabalho de pensar. Talvez, num futuro próximo, as estruturas da nossa sociedade não mais estarão erguidas sobre as bases da filosofia grega e, sim, sobre as bases da filosofia nietzschiana.