quarta-feira, 8 de agosto de 2012

De como o Curiosity me faz lembrar uma pipa



    Todo esse contexto do pouso do mais recente jipe explorador da NASA me fez lembrar as coisas que eu inventava quando era pequeno. Lembro principalmente de uma pipa que projetei e construí para levar um pequeno paraquedas a bordo. Quando a pipa atingisse a altura máxima, o paraquedas se desprenderia, se armaria e sairia voando. Tudo deu certo, fiquei observando com um binóculo o paraquedas se soltar, enquanto minha irmã segurava a linha. Acreditam se eu disser que a “capsula” desse paraquedas levava várias formigas? Coloquei umas dez dentro de um pedaço de canudo transparente, fechado, para que elas conhecessem as alturas!
    Loucura mesmo foi quando construí uma pipa enorme, que causou medo e admiração aos meus amigos e urubus que a viram voar. Meu objetivo era pendurar na linha 10 uma câmera fotográfica (pior é que era uma daquelas Kodaks de rolo de filme!). Sendo grande, a pipa era capaz de levantar sem problemas até umas 500 gramas. Construí a “coisa” que abrigaria a câmera (eu construía as coisas, mas esquecia de nomeá-las). Dentro dessa coisa, estava o mecanismo que faria a câmera disparar lá no céu: criei um botão que seria empurrado contra o disparador, por meio da força de um elástico – tudo de tamanho bem reduzido, para não ficar pesado. O impacto aconteceria após UM CIGARRO partir uma linha. Enquanto o cigarro queimasse, a pipa ganhava altitude. Quando a chama consumisse todo o cigarro, atingiria a linha, que se partiria e ativaria o disparador da câmera. Entretanto, no “dia do voo”, algo deu errado; provavelmente, a chama do cigarro atingiu outras partes da capsula: vi quando a câmera despencou de uma altitude de uns 150 metros até se espatifar no chão.
    Já tentei até construir um balão. Como é muito perigoso balões de ar quente, tentei fazer um de gás leve. O problema é que eu não sabia onde se vendia hélio, então desenvolvi um equipamento para extrair hidrogênio da água por meio do processo de eletrólise (eu fazia isso mesmo, não estou brincando!). Só que a extração demorava muito; cheguei a encher com o gás uma bolsa dessas de dudu: eu a soltava e ela saia voando até bater no teto do meu quarto. Mas era pouco para levantar objetos pesados (eu pretendia colocar uma câmera fotográfica a bordo do balão). Como a eletrólise é um processo muito demorado, perdi a paciência e não continuei o projeto.
    É sem igual a sensação que a gente sente quando construímos algo que projetamos e o vemos funcionar como o esperado. Isso explica a comemoração maluca dos técnicos da NASA ao verem o fruto das suas mãos aterrissar em Marte de um modo mais perfeito que o planejado. Eles devem ter sentido mais ou menos o que senti quando vi bem de perto as crateras da Lua com um telescópio que eu mesmo construí.
    Hoje em dia, não faço mais loucuras como aquelas, usando pipas; mas bem que sinto vontade de voltar a fazer. Meu projeto atual é enviar um balão de hélio até a estratosfera, conduzindo uma câmera digital, a fim de fazê-la tirar umas fotos lá de cima. Boa parte do agreste pernambucano seria enquadrada. Quando o balão estourasse, a câmera cairia com um paraquedas e eu a localizaria por meio de GPS. Tudo isso é possível e fácil de se montar. Nos outros países, todo mundo faz isso com menos de mil dólares, por que também eu não consigo fazer?!