Todo esse contexto do pouso do mais recente jipe explorador
da NASA me fez lembrar as coisas que eu inventava quando era pequeno. Lembro
principalmente de uma pipa que projetei e construí para levar um pequeno
paraquedas a bordo. Quando a pipa atingisse a altura máxima, o paraquedas se
desprenderia, se armaria e sairia voando. Tudo deu certo, fiquei observando com
um binóculo o paraquedas se soltar, enquanto minha irmã segurava a linha.
Acreditam se eu disser que a “capsula” desse paraquedas levava várias formigas?
Coloquei umas dez dentro de um pedaço de canudo transparente, fechado, para que
elas conhecessem as alturas!
Loucura mesmo foi quando construí uma pipa enorme, que
causou medo e admiração aos meus amigos e urubus que a viram voar. Meu objetivo
era pendurar na linha 10 uma câmera fotográfica (pior é que era uma daquelas
Kodaks de rolo de filme!). Sendo grande, a pipa era capaz de levantar sem
problemas até umas 500 gramas. Construí a “coisa” que abrigaria a câmera (eu
construía as coisas, mas esquecia de nomeá-las). Dentro dessa coisa, estava o
mecanismo que faria a câmera disparar lá no céu: criei um botão que seria
empurrado contra o disparador, por meio da força de um elástico – tudo de
tamanho bem reduzido, para não ficar pesado. O impacto aconteceria após UM
CIGARRO partir uma linha. Enquanto o cigarro queimasse, a pipa ganhava
altitude. Quando a chama consumisse todo o cigarro, atingiria a linha, que se
partiria e ativaria o disparador da câmera. Entretanto, no “dia do voo”, algo
deu errado; provavelmente, a chama do cigarro atingiu outras partes da capsula:
vi quando a câmera despencou de uma altitude de uns 150 metros até se espatifar
no chão.
Já tentei até construir um balão. Como é muito perigoso
balões de ar quente, tentei fazer um de gás leve. O problema é que eu não sabia
onde se vendia hélio, então desenvolvi um equipamento para extrair hidrogênio
da água por meio do processo de eletrólise (eu fazia isso mesmo, não estou
brincando!). Só que a extração demorava muito; cheguei a encher com o gás uma
bolsa dessas de dudu: eu a soltava e
ela saia voando até bater no teto do meu quarto. Mas era pouco para levantar
objetos pesados (eu pretendia colocar uma câmera fotográfica a bordo do balão).
Como a eletrólise é um processo muito demorado, perdi a paciência e não
continuei o projeto.
É sem igual a sensação que a gente sente quando construímos
algo que projetamos e o vemos funcionar como o esperado. Isso explica a
comemoração maluca dos técnicos da
NASA ao verem o fruto das suas mãos aterrissar em Marte de um modo mais
perfeito que o planejado. Eles devem ter sentido mais ou menos o que senti
quando vi bem de perto as crateras da Lua com um telescópio que eu mesmo
construí.
Hoje em dia, não faço mais loucuras como aquelas, usando
pipas; mas bem que sinto vontade de voltar a fazer. Meu projeto atual é enviar
um balão de hélio até a estratosfera, conduzindo uma câmera digital, a fim de
fazê-la tirar umas fotos lá de cima. Boa parte do agreste pernambucano seria
enquadrada. Quando o balão estourasse, a câmera cairia com um paraquedas e eu a
localizaria por meio de GPS. Tudo isso é possível e fácil de se montar. Nos
outros países, todo mundo faz isso com menos de mil dólares, por que também eu
não consigo fazer?!