quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O dia do voto


    Depois de receber tudo o que é esclarecimento sobre como usar a urna eletrônica; depois de ver várias vezes ao dia na TV criativos comerciais incentivando a boa escolha de candidatos e a importância do nosso voto; depois de ouvir tão grande número de instruções equivalentes a um curso para formar eleitores conscientes (coisas básicas, mas o brasileiro adora ouvir o que já sabe como se nunca tivesse sabido e se sentir feliz com a re-reprise das instruções mais elementares); depois das campanhas eleitorais com carros-de-som o dia inteiro enchendo a troposfera com paródias musicais e vinhetas onde se ouve os números dos candidatos até a náusea nos invadir, chegou, finalmente, o dia em que o país escolhe os seus novos governantes.
    As escolas públicas estão lotadas de eleitores. A boca de urna trabalha duro para conseguir votos a mais de última hora; parece esforço medíocre e vulgar, mas o resultado é significativo. Nas ruas, o chão está coberto por um tapete de folhetos contendo fotos de candidatos, à semelhança de neve, cada papelzinho um floco.
    Longas filas se formam ladeando salas de aula. Uma delas está parada faz uma hora e meia, as pessoas impacientes. Isso porque uma velhinha está ocupando a urna eletrônica (para quem não sabe o que é, trata-se duma espécie de calculadora grande, em forma de caixa, com display preto e branco, orgulho dos brasileiros, símbolo da modernidade no país). Ninguém se preocupa em saber se a velhinha morreu ou se está apenas assistindo ao brilho branco da telinha. Levou dez segundos para digitar o número errado do candidato e até agora não saiu do posto de votação.
    Ainda no mesmo dia o povo saberá os nomes dos vencedores – isso é muito importante, tanto que nem eleição haveria sem a rapidez da apuração!

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