segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Teofania


10 de outubro

    Hoje estive presenciando ao Santa Cruz Moda Cup, grande evento dedicado aos amantes do ciclismo. Várias modalidades competem, com ciclistas vindos de pontos diversos do estado e do país.
    Uma das apresentações mais apreciadas são as acrobacias feitas por uma equipe de ciclistas profissionais, com manobras do maior grau de radicalidade. Tudo isso a céu aberto, debaixo do sol impiedoso, típico do clima santacruzense.
Enquanto eu assistia a tudo, um forte brilho chamou minha atenção. Vinha dos olhos de uma das meninas que ficava no pódio, condecorando com medalhas os ciclistas chegados. Eu já tinha dito noutra ocasião (talvez no Twitter), que em Santa Cruz não é difícil encontrar garotas belas. As três do pódio eram belíssimas, mas aquela em particular era um fenômeno, um poema camoniano, uma ninfa do Tejo, uma divindade.
    Jamais eu havia ficado frente a frente com criatura tão bonita. Jamais mesmo! Seus olhos eram... não sei... eu via neles o azul dos mares, o verde da Amazônia, o prata do céu estrelado, o cinza da Lua, o brilho das nebulosas. Olhando-os, acredite, eu ouvia o som de uma cascata, mas uma cascata de luz viva.
    O vento soprava os cabelos dela e ela, sem parar, alisava-os. Que cabelos tão lindos! Por isso o vento fazia questão de sacudi-los. Pura seda castanha! Se eu fosse o vento, também faria o mesmo e podia deslizar por aquele rosto liso como porcelana.
    Eu a olhava sem parar, nenhuma atenção dedicava às manobras dos ciclistas. Alguns passavam, em suas bikes, voando de cabeça para baixo bem na minha frente, outros davam giros no ar em manobras perigosas, mas eu nem estava aí, só ela via. O sol estava literalmente derretendo o asfalto, mas, olhando-a, eu me sentia embaixo da sombra duma grande árvore, deitado numa rede e bebendo água de coco. Ela estava sob o mesmo sol que eu, os raios de luz que me tocavam, também tocavam ela!
    Os organizadores do evento esbanjaram genialidade quando puseram aquela divindade para receber no pódio os atletas chegados após dezenas de quilômetros de pedaladas. Para eles, era como aportar naquela ilha preparada por Vênus para receber as naus de Vasco da Gama durante o regresso das Índias. Imagino que muitos ciclistas, ao encarar a menina, assim pensaram: “Não é possível! Estou no Paraíso! Nem percebi o que me matou. Terá sido o desgaste físico desta corrida?”
    Eu queria ter tirado uma foto com ela; colocaria neste blog, e o leitor veria que o que falo é pura verdade. Mas eu estava apenas com um celular, cuja resolução da câmera não era o suficiente para captar aqueles traços divinos. Um bilhão de megapixels talvez conseguisse reproduzir as cores dos olhos dela e a beleza do seu rosto.
    Não me apaixonei por ela. Vendo-a, minha alma se ajoelhou, ou melhor, se prostrou no asfalto e, adorando-a, rezou: “Santo anjo do Senhor, minha zelosa guardadora, se a te me confiou a piedade divina!”
    Espero tornar a vê-la outro dia. Será que ela era mesmo real?

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