quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Breve desabafo

    Eu não deveria escrever isto. Ou melhor, escrever eu deveria, não deveria publicar. Ela vai ler. Que leia! É o que estou sentido, e não há motivos para que eu mantenha escondidos esses sentimentos. Além do mais, preciso desabafar, e não quero desabafar a outra pessoa que não seja a mim mesmo. Pois aqui vamos nós.
    Em primeiro lugar, eu não deveria ter me apaixonado por ela. Não deveria ter colocado lenha nesse sentimento. Mas coloquei, e agora não há como voltar atrás. O incêndio está feito, e não há mais como controlá-lo. Eu queria não ter feito isso, fiz de tudo para não fazer! Só que acabei fazendo, agora o meu coração bate por ela. Sempre explico tudo, sempre procuro me entender ao máximo e entender as coisas ao meu redor, mas não sei por que fui me apaixonar por ela. É aí que para a minha ciência. Eu não queria, mas aconteceu. Têm razão aqueles que dizem que apaixonar-se nos deixa idiotas: é vergonhoso escrever isto! Não, não sinta vergonha, André! Você não pode ter vergonha de falar de alguém que aprendeu a gostar tanto. Gosto tanto dela! Se ela soubesse metade do que sinto. Mas não sabe, nem quer saber, nem se importa em saber nem um pouco.
    Ela é tão diferente de mim! Por que diabos fui me apaixonar por alguém que provavelmente não combina comigo? Terá sido por causa dos olhos dela, que me enfeitiçaram? Não! Conheço muitas outras meninas de olhos azuis, verdes, pratas, e nenhuma nunca me prendeu tanto. Foi a pessoa que ela é por dentro que me conquistou, foi a personalidade dela e tudo o que ela faz. É justamente isso que fez com que eu veja nos olhos dela uma magia inigualável, como se o que ela fosse por dentro irradiasse pelos olhos uma luz que só eu consigo ver. Talvez por isso quanto mais a conheço, mais gosto dela.
    Ela tem coisas invisíveis aos olhos, mas que me atraem muito. Não vejo essas coisas, lógico, mas as sinto. Tão diferente de mim é ela! Dança ballet. Não só dança, como também ensina. É bailarina! E eu? Todo o contato que tenho com dança resume-se em valsa de debutantes, raramente. Ela bebe, gosta muito de bebidas, fica de ressaca até. E eu? O máximo que bebo é vinho e jamais exagerei. Ela não entende tanto de ciência, e eu sei dizer o nome de cada maldito elemento químico da tabela periódica, de cada estrela visível no céu, de cada monte, serra ou montanha importante que há no mundo! Eu moro aqui, ela mora lá, no Sul, ao sul, bem para o sul. Somos duas naturezas tão distintas! Mas não estou chegando a lugar algum dizendo isto. Só estou desabafando.
    Gosto tanto dela! Não consigo ver nenhum defeito nela. Será que a amo? Melhor pensar que não! Amor é uma palavra muito forte, prefiro não mencioná-la tão cedo. Quando peguei neste lápis, meu objetivo era começar um conto sobre uma bailarina, e o que saiu foi isto. Dei liberdade ao meu coração para escrever o que quisesse aqui; eis o resultado! Não, desse modo não estou sendo bom escritor. Escritores trabalham ao escrever, não escrevem apenas as bobagens que o coração sente.  Preciso usar a razão, a arte e a pena, como sempre fiz.  No entanto, quando o assunto é bailarina, lembro logo dela, daí meu coração passa a dominar. Desse jeito vai ser difícil escrever um conto sobre ballet.

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