terça-feira, 11 de outubro de 2011

Sobre donativos e escola


    Todos nós conhecemos as campanhas de arrecadação de donativos que muitas escolas promovem para ajudar comunidades carentes, mandando grupos de alunos baterem de porta em porta pedindo alimentos, roupas, brinquedos etc., esclarecendo a finalidade das doações. Filantropicamente, é um gesto caridoso por parte da escola, mas, ao meu ver, não é capaz de modo algum de ensinar aos alunos a verdadeira solidariedade.
    No mais das vezes, a escola concede algum tipo de bônus ao aluno que faz a arrecadação: são sempre notas extras em alguma disciplina que, por insignificantes que sejam, ajudam um aluno preguiçoso a passar de ano, e esses alunos dão qualquer coisa por uma atividade fora da sala de aula, e quando vale nota, mais ainda. Não é nem de longe o sentimento de caridade que faz o aluno sair em grupo para fazer as arrecadações; é, sim, o interesse pela própria situação escolar, um serviço que terá um pagamento.
    Terminada a arrecadação, há casos em que nem são os alunos que entregam os donativos às famílias necessitadas – não fazem sequer ideia do que seja uma comunidade carente. E mesmo que o aluno vá pessoalmente conhecer a pobreza do lugar para levar as espórtulas (quanto eufemismo!) que conseguiu arrecadar, isso não o fará mais caridoso de modo algum. O que vai acontecer é que ele vai se sentir superior ao se ver diante de tanta gente que nunca teve o que ele tem em casa. Vai entregar a ajuda e pensar: “Ajudei um povinho pobre! Como sou bondoso!” E se o aluno acreditar em alguma divindade, sem dúvida a certeza de que vai para o céu vai aumentar: “Com essa imitei um santo!”
    O melhor modo de educar para a solidariedade uma mente que cresceu numa família bem estruturada financeiramente é fazer a criança ou o adolescente vivenciar as mesmas experiências vivenciadas pelos pobres. Talvez o aluno devesse passar um dia inteiro com uma família carente, como se fosse membro dela: comer do mesmo que fosse comido na casa, tomar banho no mesmo banheiro, beber da mesma água, brincar com os filhos, passando o dia todo sem Internet e sem o menor vestígio de computador etc. Você é pai ou mãe? Se sim, o que sentiu quando leu isto?

Nenhum comentário: