quinta-feira, 8 de julho de 2010

Na hora das refeições

    Sou um perigo numa mesa de refeições. Se vou colocar feijão no prato, metade cai fora. O mesmo acontece com o arroz. Se é macarrão, espalho-o pela mesa e o que consegue cair no prato fica pendurado para fora. A carne é preciso segurá-la bem, com o garfo, quando a estou cortando, senão ela vai parar longe. Outro dia quase fraturei o crânio de um amigo quando arremessei, sem querer, um pedaço de carne desgovernado sobre sua testa. Por falar em garfo, sempre os entorto quando os uso. Se você gosta dos seus garfos, não os empreste a mim. Caixas de leite, não sei dominar. Em minhas mãos, parecem mangueira de bombeiro, esguichando líquido branco. Diferentemente do feijão, o leite nunca acerto no alvo. Caso o conteúdo da caixa consiga cair dentro do copo, sai com tanta força que logo se espalha por todos os lados, sujando a mesa e tudo ao redor. Faz pouco tempo que, numa elegante pizzaria, derramei um copão de milk shake na calça – até as meias se lambuzaram. Se ponho manteiga numa bolacha, logo ela cai no chão com a parte da manteiga virada para baixo – já estou acostumado a apanhar do chão as comidas que derrubo e imediatamente engoli-las. Se encho a boca de espaguete, há os que ficam pendurados para fora, difíceis de sugar, e logo caem sobre minha camisa basta o mínimo movimento com a cabeça. Bolo, em minhas mãos, vira pó. Se como cachorro quente, oitenta por cento dele se desmancha no chão. Sempre me engasgo com sucos de frutas ácidas, como limão.
    Depois de tudo isto, não preciso nem dizer que não sei cozinhar. Tentei fritar um ovo uma vez e quase incendiei a casa.
    Eu me esforço por dominar a comida, mas ela me odeia. Sou uma espécie de repulsor de alimentos, como se estes fossem a polaridade positiva de um ímã se encontrando com a polaridade positiva do ímã que sou.

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