domingo, 4 de julho de 2010

Versos

02 de julho de 2010

    Ontem fui ao centro da cidade reclamar da mudez dos telefones no Santa Rosa. Mesmo no dia da simulação do Apocalipse e na semana subsequente à catástrofe, as linhas telefônicas do bairro não apresentaram o menor problema. Mas, desde segunda feira, aparelhos fixos de várias residências estão funcionando exatamente como se estivessem desconectados da tomada.
    Só que, quando cheguei ao centro e me deparei com toda aquela desolação, lama em todas as ruas, fios e postes ainda no chão, lojas parecendo cavernas úmidas e escuras, montes de lixo por todos os cantos, tratores tentando limpar as ruas, gente – provavelmente faminta – catando o que sobrou dos alimentos de supermercados, buracos, engarrafamentos, caos, quando com tudo isso me deparei, o sentimento de piedade foi o único que restou em mim. Tirei do bolso os cinco centavos que levava e o depositei na palma da mão aberta da cidade.
    Pelo que ouvimos aqui em carros-de-som e rádios, a terra dos poeteiros escolheu os seguintes versos para retratar sua atual situação:

Senhor, consolai os que choram
Curai os que sofrem
Nas ruas, nos guetos
Nos becos escuros
Na chuva, no frio, sem teto e sem pão.

    Além desses acima, esses abaixo também retratam bem o que vemos:

Uma esmola pelo amor de Deus
Uma esmola
Meu! Por caridade
Uma esmola
Pr'o ceguinho, pr'o menino
Em toda esquina
Tem gente só pedindo...
Uma esmola pr'o desempregado
Uma esmolinha
Pr'o preto pobre doente
Uma esmola
Pr'o que resta do Brasil
Pr'o mendigo, pr'o indigente...

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