quinta-feira, 22 de julho de 2010

A nova versão do monstro do lago Ness


21 de julho de 2010

    Ontem o rio Una trouxe mais um motivo para despertar admiração nos palmarenses: uma serpente gigante. Não significa que se tratasse dum animal fabuloso, era gigante dentro dos padrões naturais da sua espécie, mas como não entendo de cobras, não sei dizer a que espécie aquela pertencia. Nem cheguei a vê-la, quem contou-me a história da aparição foi minha mãe e Mariana, que presenciaram o ocorrido.
    As duas tinham acabado de chegar de Caruaru. A tarde estava se findando. Antes de descer do ônibus, notaram grande quantidade de gente reunida embaixo do viaduto Prof.ª Lúcia Paiva, todos apreciando algo no rio. Isso as fez de imediato pensar: “Só pode ser mais uma enchente!” Ao descer do ônibus, logo correram em direção à multidão, a curiosidade humana as impelia. Chegando lá, viram que as pessoas estavam olhando, boquiabertas, uma tremenda cobra que no meio das águas parecia boiar. Segundo Mariana, o réptil movia-se devagar, serpenteando, como lhe é natural, mas sem sair do lugar. Parecia estar gostando do sucesso que fazia diante da plateia. Às vezes, erguia sua cabeça de monstro e abria a boca, assustando a todos, arrancando interjeições do público. Naquele trecho às margens do rio, se formara verdadeira farra. Adultos, crianças, velhos, bêbados, doidos, raparigas (na acepção brasileira da palavra), gente de zona, maloqueiros, aleijados, pessoas bem vestidas, mal vestidas, tudo isso se encontrava lá. Os motoqueiros paravam para ver, os carros que passavam também paravam, muita gente subia na ponte para ver melhor. Dessa vez não foi um teatro que as circunstâncias montaram, como aconteceu no Campo da Rede. Dessa vez tínhamos um zoológico. Para um povo que jamais visitou um de verdade... É o povo do mesmo Brasil que deixou sua principal coleção de cobras virar cinzas num incêndio causado por negligência.
    A noite veio e muitos ainda lá permaneceram na companhia da cobra gigante. No dia seguinte, rola pela cidade boatos de que a serpente não passava de ilusão de ótica. Uns dizem que era um tronco, outros uma fita, outros uma rede, outros uma lona. Se realmente o que viram não era uma cobra, é a segunda vez após a enchente que os palmarenses montam uma situação imaginária tida como real, o que deixaria claro o quanto a população estaria traumatizada com relação à natureza. Primeiro foi o rompimento imaginário da barragem do Prata; agora, uma serpente imaginária. Mas minha irmã viu a cobra com seus próprios olhos, ainda sob a luz do sol, e afirmou ser de fato uma cobra verdadeira, do tipo capaz de engolir uma capivara.

A serpente de Frei Damião

   Não acredito que vou escrever sobre uma merda dessa!
   Reza a lenda de Palmares que, durante uma das raríssimas visitas que o frade capuchinho fez à cidade, disse haver uma serpente enterrada abaixo da Praça Ismael Gouveia e que, um dia, viria uma grande enchente para desenterrá-la. Neste caso, a profecia se realizou com precisão extremamente objetiva.
   Em verdade, já ouvi muitas vezes essa história das palavras do religioso desde que na cidade moro, mas não há unanimidade no ponto onde a serpente estaria enterrada: uns dizem ser no Cocão do Padre; outros, na catedral, e que foi o diabo quem lá a pôs; outros afirmam ser no meio da Avenida Estácio Coimbra; outros, no fundo do rio ou em algum lugar perto da usina. Historicamente, o que o famoso frade provavelmente disse e permaneceu na memória do povo foi alguma metáfora mal compreendida envolvendo serpente e Palmares. Bem sabemos que na Bíblia serpente tem significado específico que vai além de réptil.

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