domingo, 27 de junho de 2010

Relatos de pessoas ilhadas


    Um conhecido meu, na noite em que a água fazia das ruas palmarenses um único rio de correnteza feroz, só conseguiu se salvar porque subiu na cumeeira do primeiro andar da sua casa, onde permaneceu se equilibrando por cerca de 36 horas. Ele e a sogra. Relatou-me que, no final da madrugada, o dia começando a amanhecer após uma noite de escuridão absoluta por todos os lados, frio e chuva, viu, não muito distante, dois bois mugindo. Os animais nadavam sem direção entre as ruas, levados pela enchente, procurando terra firme. Não creio que morreram afogados, bois são excelentes nadadores.
    Outro conhecido enfrentou a cheia inteira em cima do palco armado no pátio da sulanca, onde seria festejado o São João. Não estava só – um grupo inteiro de pessoas ficou empoleirado na armação, que passou a noite se balançando como uma caravela encalhada. Quando todos pensavam que o palco ia virar, olhavam um para o outro, diziam “É agora!” e corriam para o outro lado, a fim de, com seus pesos, equilibrarem a estrutura.
    Soube ainda de pessoas que se salvaram abrigadas no topo de pés de coco. Outras que permaneceram em cima de baixas colinas que, literalmente, viraram ilhas.

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