sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Coerência de bêbado

Deparei-me outro dia com um sujeito sentado à porta dum botequim. Tinha a cara toda ferida e o corpo marcado por escoriações recentes. Apesar disso, não estava mal vestido e sorria deveras. Quando o perguntei o que houve, a resposta foi precisamente essa aí:

– Eu tava lá, em pé na mesa, e o outro caba teimava dizendo que não era muita coisa não: somente quatro copo de cerveja e cinco garrafa de pinga. Eu peguei lá depois o pedaço de pau e fiquei metendo na mesa. Chico não se conformou e disse: “Abaixa o som aí!” Tacaram o dedo no botão, aí ele chegou cum bem muita raiva dizendo que todo mundo era corno. Não me aguentei; rodei-lo o toco de pau na canela e outro chaga tava deitado, com a língua pra fora, a calça rasgada... Mas a gente sabe, né, que todo caba acanaiado termina gostando dum brega véi da porra. “Era um relapso, um relapso!...” Só se ouvia isso depois, pro lado dum pirralho mijando no mêi da rua. Mas eu não sei por que, mas sei ao mesmo tempo, né? A menina vai, vai, vai; se apaixona por um pedaço de pau e fica reclamando depois! Eu sou mêi ignorante, não me acontentei e fui lá apartar a briga. “Vamo pará com isso que eu não sou burro não!!” Mas como água mole em pedra dura tanto fura até que bate, saí de lá e fiquei na parede. Aí ela perguntou: “Cadê?” Eu disse: “Ainda não; espera aí!” Não tem essas rodinha, que o povo chama de sonho, que serve pra comer?... Pronto. É mêrmo assim. Mas o dono gritou pro meu lado: “Solta esse pedaço de pau, fi de ra!...” Eu disse: “Solto nada; vem cá tumá!” Ele vêi, me derrubou da parede e subiu pra mesa. “Não quebra a luz não!!!” Pá! Ficou tudo no escuro. Era mêrmo no dia que a gente ia gravar o CD. Mas ele fez isso porque tinha faltado inegia e ele ficou cum raiva. Quando dá dirrepente a menina leva um choque no secador de cabelo. Ele tava bêbo também e ainda tava cum o pedaço de pau na mão; rodô-lo no secador véi e só se ouviu o pipoco: tudo no escuro, porque tinha faltado inegia, né?! A menina acendeu uma vela, o galego disse: “Tu vai rezar, é?” Mas eu não saía da parede de jeito nenhum! Aí ela disse pra mim: “Manda a menina desligar a televisão, porque tá sem inegia!” Um escuro danado... Acendi o claro do celular; um calor abafurido; mêi dia e um aperto da fébe daquele. Mas só se ouvia Menestrel dizer: “É Gioconda, Gioconda!...” Eu disse: “Vamo pará cum esse papo fudido!” Eu ainda tava cum o toco da pau na mão, metí-lo na mesa... Aí aquele veado falou: “Chico Pé de Macaco!” Eu disse: “Eu não sou Chico Pé de Macaco não! Burro é quem me chama de Chico Pé de Macaco!” De repente o dono chegou numa moto véia, gritando cum toda a boca: “Vamo pará cum esse cabaré!” Subi na mesa; a menina que tava namorando cum o pedaço de pau subiu no balcão... Aí ele ligou o som: um brega da bobônica... O bêbo se levantou do chão e disse: “Quem manda aqui sou eu!” Mái não prestou não... O caba da moto deu-luma cacetada nos pé que ele ficou cum dô de barriga por três dia. “Sái de cima dessa parede e solta esse pedaço de pau!!” Eu disse: “Pronto.” Soutô-lo, pindurô-lo pela manga da camisa véia... Eu disse: “Êpa!” “Não meta o dedo aí não!” Pá! O véi da roupa véia disse: “Eu vou dá-luma dedada! Mái não prestou não... Até hoje esse caba gosta de Elton John. Mas Netrébico ficou ripitindo: roupa nova é melhor!...

Nenhum comentário: