sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Resultado duma breve insônia

Quase não consegui pegar no sono ontem pensando no que existiria antes do Big Bang.

Juntei esse pensamento às descobertas de Edwin Hubble sobre a expansão do universo, pensei na possibilidade de o nosso universo ser curvo numa quarta dimensão, imaginei se um dia o cosmo irá mesmo parar de se expandir e começar a recuar. Isso me fez questionar: se o Big Bang é o início de tudo e se o universo recuar até originar um Big Bang pelo inverso, quantos Big Bangs já devem ter ocorrido? Pensei até mesmo na assustadora hipótese de poder o universo não passar de um elétron fechado de um universo bem maior, assim como cada elétron do nosso universo pode ser um universo menor que o nosso.

Depois liguei essas cogitações à Teoria da Relatividade Geral de Einstein, pensei nos túneis abertos no espaço-tempo pela poderosíssima gravidade dos buracos negros e só conclui que precisamos pesquisar mais – a física precisa de muito mais respostas.

Então entrou em cena o LHC e os novos horizontes que essa espetacular experiência poderá abrir à física moderna, como a confirmação da existência do Bóson de Higgs. Cogitei, inclusive, sobre a teoria das cordas, que me fez questionar: será que ela pode nos dar a resposta sobre de onde veio o embrião do universo?

Em seguida, pensei no Papa dizendo curto e grosso “Deus é responsável pelo Big Bang!” e vi que Sua Santidade não faz a mínima ideia do que está acontecendo dentro daquele túnel na fronteira franco-suíça. Quando finalmente todos os dados do grande colisor de ádrons forem decodificados pela população de cientistas do Cern, daremos um importante passo no entendimento desse mistério sobre como do aparente “nada” surgiu uma explosão que deu origem a toda a matéria conhecida e desconhecida. E dizer que “Deus é responsável pelo Big Bang” passará a ser tão obsoleto quanto “a Terra é o centro do universo”. Alguém poderá dizer que o LHC não foi feito para descobrir como do nada pode surgir matéria e, de fato, não foi. O objetivo da experiência, como sabemos, é simular os primeiros instantes do Big Bang, quando, óbvio, a matéria já existia. Mas não duvido que o melhor entendimento dos primeiros segundos do cosmo possa originar uma ponte que nos conduza ao que havia antes de tudo.

O que o leitor acha de nomear ironicamente de Deus essa parte da física que vai tornar claro como do nada pode a matéria surgir? (cheguei a pensar exatamente isso naquela enfadonha noite sem sono) Seria uma justa homenagem a esse personagem criador imaginado pelos homens a tanto tempo!

Aí pensei em ciência e fé, notando que a Igreja se mostra “amiga” da astrofísica – chegando até a dizer que fé e ciência se harmonizam – porque o maior pesadelo dos eclesiásticos são as respostas que explicam o cosmo absolutamente livre da influência de qualquer forma de divindade.

Diante de tudo o que a ciência explica sobre a formação do universo, do Sistema Solar, da Terra, da vida, com os 4,5 bilhões de anos da evolução, do homem e da nossa história, aos crentes que não querem negar a ciência só resta dizer: “tudo isso só aconteceu porque foi a vontade de Deus!” Mas, em verdade, tal argumento religioso não convence cético algum...

Talvez o que mais reconforte os crentes instruídos seja a falta de explicação para o que “criou” os elementos que resultaram no Big Bang. Mas essa falta de explicação está com os dias contados.

O que fazer com Deus quando não houver mais o menor espaço seguro para colocá-lo, quando todos os pontos e mistérios do cosmo forem compreendidos por nós?

Pensei nos que afirmam ser Deus grande demais para a nossa “pequenina” mente, dizendo coisas como “nossa capacidade raciocinativa não é capaz de abranger o infinito, a eternidade que é Deus”. Provavelmente a chegada do sono me fez sentir pena desses que assim pensam, ou melhor, dos que não pensam, pois isso não é pensar.

Pensando sobre o que originou a matéria original, vem à nossa cabeça algo como Deus. Pensando sobre o que originou Deus, vem à nossa cabeça o homem (pois a resposta "Deus sempre existiu" não convence ninguém que tem o costume de pensar). Pensando sobre o homem, voltamos à questão sobre o que originou a matéria original, combustível do Big Bang. Então ficamos andando em círculos! Será que o nosso pensamento, como tudo no universo, está fadado a ser curvo? Assim como não é possível aceitar a explicação de um Deus que sempre existiu (afinal, eternidade não é um conceito científico e pertence apenas à esfera meramente religiosa), do mesmo modo não é possível aceitar a explicação de que o embrião cósmico de repente surgiu do nada que havia até então (ou melhor, do nada que não havia, pois nada não "há"). O certo é que tudo se contradiz quando recuamos nosso pensamento até aqui!

Talvez estejamos olhando para o lado errado quando nos perguntamos sobre o que originou a matéria original; talvez não seja a pergunta certa a se fazer; talvez seja um modo humano de tentar encontrar uma resposta que está acima da concepção humana atual; talvez o fato de estarmos presos a um mundo de 3 dimensões faça com que não consigamos enxergar a realidade plena da física. O que precisamos é verdadeiramente sintonizar nossa forma de pensar com o cosmo, compreender o que o constitui (o LHC é uma grande ajuda neste ponto). Não acredito que estejamos destinados a não compreender o infinito.

A você que até aqui está com a janela do seu navegador aberta neste blog, eu lhe digo: se sua mente não for capaz de abarcar uma coisa, é prova clara de que essa coisa não existe. Seria como somar dois mais dois e querer que o resultado fosse cinco. É possível que dois mais dois seja cinco, diz o crente, eu acredito! Nossa mente não compreende esse mistério, mas é possível; tenha fé. A decisão é sua. Você é quem decide no que acreditar ou não.

Quanto a mim, estou cada vez mais convencido de que não há nada real que a mente humana não seja capaz de entender.

Evoluímos para pensar, para abranger com nossa extrema capacidade mental o que quer que seja. Não existem limites capazes de impedir a marcha do nosso pensamento, nem distâncias, nem imensidões, nem infinitos que não possamos dominar.

O Gênese diz que, no princípio, o homem quis ser como Deus. Está chegando o dia em que de fato o seremos.

Os deuses seremos nós.

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