sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Santo clássico - Roma quer santos modernos

No dia 31 de maio de 2011, se completarão 14 anos da morte de Frei Damião, um dos poucos religiosos venerados como santo ainda em vida. Naturalmente, agora, passou a ser um dos candidatos à veneração nos altares. Será um desafio para Roma primeiro beatificar e depois canonizar um frade de santidade clássica, como os inúmeros da Idade Média.

O Vaticano almeja por exemplos de santidade modernos, que de algum modo provem ser possível praticar o catolicismo de cosmovisão contemporânea, inaugurado pelo Concílio Vaticano II, afinal, santos que seguram terço e trajam hábito a Igreja tem pra dar e vender. João Paulo II já disse que a Igreja precisa de santos que usem roupa jeans!

O povo que chama Frei Damião de santo é imenso, porém tem pouca mobilização política; é mais sofredor que atuante; nordestinos esquecidos pelo país, gente que participou das missões do religioso e que ainda carrega a mesma fé do tempo em que ouvia os sermões do capuchinho.

Essas pessoas foram educadas no cristianismo tradicional, que muitos julgavam extinto ou em via de extinção e que, segundo Leonardo Boff, “sobrevive na experiência religiosa do povo e encontrou em Frei Damião seu santo, seu profeta e seu analista transcendente.” Por isso os progressistas classificam o religioso de “ultrapassado”.

Ainda de acordo com o conceito do teólogo acima citado, diante do pensamento do novo cristianismo de cultura moderna, o povo da tradição não tem vez, perde sua identidade, não encontra valores.

Podemos dizer que o silêncio da maioria das lideranças religiosas e dos teólogos para com o exemplo de santidade do grande peregrino reside, no fundo, nisso: eles não se identificam mais com aquele tipo de cristianismo nem com seu portador, as camadas populares. Eis o maior obstáculo à canonização.

Não duvido que Chiara Lubich, por ter estado muito mais perto do Papa e por ter sido progressista, provavelmente seja canonizada antes do nosso Frei Damião, mesmo tendo morrido 11 anos depois do capuchinho.

Mas uma coisa não deixo de pensar: se Frei Damião não for canonizado, não sei o que é um santo. O Vaticano já canonizou pessoas “menos santas” que ele!

Se ainda fosse o povo que proclamasse os seus santos, o capuchinho já estava canonizado desde muito antes de falecer – sabemos que incontáveis milagres foram atribuídos a ele quando vivo.

Apesar de tudo, creio seguramente que Roma não vai deixar de canonizá-lo, pode ter plena certeza disso, nem que seja daqui a trezentos anos.

Posso dizer que eu, André Hilton, e milhões de outros nordestinos, tivemos contato direto com um santo da Igreja Católica quando ainda viva, ou melhor, vivo. Em Santa Cruz do Capibaribe (no tempo do Pe. Bianchi Xavier), acompanhei muitas missões suas quando criança; fui até tocado por sua pesada mão sobre a minha cabeça num dia em que ele me abençoou, na igreja de São Cristóvão. Lembro desse momento como se tivesse ocorrido ontem.

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Referência bibliográfica: OLIVEIRA, Gildson. Frei Damião: o santo das missões. São Paulo, FTD, 1997. p. 140-141

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