sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O almoço

Nesta época do ano, na latitude onde vivo, os raios solares caem com tanta força que quase chegam a perfurar o chão. Há dias onde o calor dentro de casa torna-se insuportável, principalmente na hora do almoço. Isso me faz preferir almoçar, às vezes, numa mesa situada no quintal. Sentado em suas cadeiras, podemos pôr os pés descalços sobre um piso de terra, abaixo duma boa sombra, com bastante vento soprando.

Outro dia, eu almoçava tranquilamente nesse confortável local. Meu primo, Henrique, encontrava-se do meu lado, a falar de futebol. Foi quando ele avistou um bicho no chão e me perguntou:

– Que bicho é esse, André?

Olhei e respondi:

– É uma lesma.

O animal, de tamanho bem maior que o ordinário, caminhava lentamente (não podia ser rápido mesmo!) ao pé do muro. Seus olhos pulados pareciam procurar algo.

Meu primo é perito em matar preás, gabirus, calangos, lagartixas. Curioso por conhecer a resistência do pequeno molusco gastrópode, Henrique lançou mão duma espátula. Tentou colocar nela a lesma, mas esta, tendo corpo muito frágil, sofreu um ferimento grave.

Como o bicho já estava inválido, meu primo resolveu espatifá-lo ainda mais. Imagine, caro leitor, uma lesma espatifada! Tal imaginação provoca certa turbulência se você estiver fazendo alguma refeição. Mas eu, em pleno almoço, ouvi Henrique dizer:

– Olha André! Está saindo dela uma coisa amarelada!

De fato, o gastrópode expelia certa substância pastosa, de cor amarelo-catarro. Olhei a nojenta cena com a boca cheia de macarrão. Não sei o que no momento me fez sentir ter entre os meus dentes o corpo mastigado da pobre lesma. Senti o gosto doce daquela massa corpórea espalhada ao pé da mesa. Era como se eu estivesse engolindo catarro de outra pessoa.

Se você não conseguiu vomitar, leia mais uma vez.

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