sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Na sala de aula

Estamos numa escola do início do século XX, ensino tradicionalista, onde, na sala, o professor é onipotente e a hierarquia, rigidamente observada. Um aluno do primário ergue o braço e pergunta:

– Professora, o que é peido?

Naturalmente, lançando fogo pelas ventas, a senhora responde:

– Está suspenso por um mês, seu mal-criado duma figa! – e dá-lhe uma palmatoada que quase arranca-lhe a mão.

Agora estamos no ano 2012. Também numa sala do primário, um guri pergunta:

– Professora, o que é peido?

– Boa pergunta, Cleolenildo! Peido é substantivo masculino derivado do vocábulo latino pedito. O mesmo deu origem ao verbo peidar. Vamos conjugá-lo, classe?

E todos dizem juntos:

– Eu peido, tu peidas, ele peida; nós peidamos, vós peidais, eles peidam.

– Muito bem! – fala a professora, com sua plácida voz. O aluno, ainda curioso, quer saber:

– Mas o que significa a palavra?

– Basicamente é a liberação de gases nada cheirosos pelo orifício por onde as fezes saem. Caso esses gases – que se acumulam no tubo digestivo – estejam sob forte pressurização, uma vez expelidos produzem a vibração das bordas daquele famoso buraco. Algo semelhante acontece quando deixamos escapar o ar duma bexiga, apertando a saída com os dedos.

“O nome técnico do peido é flatulência. Além disso, ele também é conhecido por pum e bufa”.

Os alunos ouvem tudo com inédita atenção, concentradíssimos nas palavras da nobre mestra. Alguns até fazem anotações.

– Muitos conversadores de merda – continua a professora – afirmam ser o peido um sinal, que pode indicar a vinda iminente de grande quantidade de matéria fecal. De fato, devemos cada vez mais aprendermos a interpretar os sinais. Portanto, estejam sempre atentos ao som dos seus próprios peidos, bem como ao fedor. Essa é a melhor forma de prever com precisão quanta bosta iremos expelir e se ela será sólida, pastosa ou líquida.

– Professora, professora! – exclama um aluno a saltar da carteira. – Estou com vontade de soltar um agora mesmo!

– Pois venha até aqui para interagirmos. Que maravilha! Até parece que seus gases ouviram a aula!

O menino vai para a frente de todos e, de costas para os colegas, esforça-se para dar o melhor do seu pum. Com efeito, consegue fazer com que saia bastante forte; mas, para a infelicidade do garoto, vem acompanhado duma explosão de merda, sujando não só suas calças, como também o piso da sala. Todos caem na gargalhada, enquanto a professora lamenta:

– Oh Juninho! Você não soube controlá-lo...

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