terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Livres para pensar


    Quando eu disse, no Twitter, que precisamos de ateísmo criativo, pois só assim as pessoas que têm contato com nossas palavras ficam ateias também, não significa de modo algum que eu esteja defendendo a coação para se impor ideias.
    Uma das coisas que mais repudio neste mundo é justamente os discursos ou opiniões que tendem a obrigar o leitor a pensar como o que proferiu ou escreveu as palavras. As pessoas que ficam ateias somente tendo contato com as palavras do ateu, conforme mencionado acima, é consequência da capacidade de eloquência do tal descrente, que livremente levou o ouvinte a adotar também o ateísmo.
    Se você quiser acreditar em Deus ou deuses e se sentir bem na crença, acredite em divindades, não tenho absolutamente nada contra os que creem em forças ocultas e/ou superstições. Do mesmo modo, se você tiver oitenta anos e continuar acreditando em Papai Noel, acredite, você é livre para pensar o que quiser, encontrar a verdade onde quiser e fazer o que quiser. Mas se você sentir que falta espaço para vivenciar as suas ideias, crenças ou descrenças, significa que a sociedade ao seu redor está com uma saúde muito precária e precisa o quanto antes de remédios.
    Defendo uma sociedade alternativa, tal qual é cantada na famosa música do Raul Seixas. Só assim grandes mentes surgem do meio do povo e a nação cresce.

domingo, 26 de dezembro de 2010

A nota nova


    Um caminhoneiro, amigo do meu primo, estava andando por um posto de gasolina quando encontrou no chão uma nota de cem reais da nova. Que falta de sorte a minha, pensou ele ao apanhar a cédula. Uma das que vale, nunca encontrei, mas falsa, sim. Mas essa aqui nem falsificada parece, com certeza é de brinquedo.
    Levou a nota para o caminhão e seguiu viagem.
    Um dos seus colegas que ia no banco ao lado o perguntou:
    – Tem dez reais aí pra eu comprar cigarro?
    O motorista respondeu:
    – Eu vou lhe dar é cem! – e o entregou a nota nova que encontrara.
    O colega achou graça e se impressionou como aquele dinheiro se parecia com os que conhecia. Olhou o número nele desenhado e disse:
    – Isto nem cem reais imita! Esse último zero aqui deve indicar o centavo, ou seja, isto é uma nota falsa de dez reais – concluiu ele.
    – Quer apostar que consigo enganar um tolo, fazendo-o trocar esse pedaço de papel por duas de cinco reais?
    – Vamos ver!
    No primeiro restaurante de beira de estrada que acharam, o caminhoneiro pegou a cédula e, achando-se o maioral na esperteza, perguntou a um vendedor de laranjas que lá havia:
    – Troca esses dez por duas de cinco?
    O vendedor prontamente trocou e acabou comprando por dez reais uma nota de cem.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Aquele que não tiver preconceito, que atire a primeira pedra

    Este vídeo do Felipe Neto nos faz pensar bastante sobre o tema. O rapaz do canal Não Faz Sentido não é tão brilhante quanto o PC Siqueira, do canal Maspoxavida; mas uma coisa esses dois vlogueiros têm em comum: falam a verdade na sua forma mais desnuda. Os palavrões são fundamentais para acompanhar a verdade sendo proclamada, pois tudo o que é verdadeiro é sujo, imundo, carniça.


    Pensar que não existe preconceito em você é tão ilusório quanto acreditar que vivemos numa sociedade democrática. Eis a totalidade dos meus preconceitos – não são tão (~) nocivos a ponto de eu não poder publicá-los. Talvez alguns deles batam com muitos dos seus também.
    Tenho preconceito contra motos; contra um estilo de música chamado pagode (divertido só para ser galhofado); contra novelas da Globo; contra outro estilo de música chamado forró (com algumas exceções difíceis de explicar aqui); contra as pessoas que acreditam demais em Deus e se deixam ser conduzidas pela crença; contra filmes brasileiros; contra bandas emo brasileiras (as estrangeiras pelo menos servem para a gente praticar inglês); contra banho de mar e qualquer tipo de diversão típica de praia; contra música pop religiosa (com exceção às do Pe. Zezinho); contra faculdades e universidades que têm propaganda na TV; contra supermercados, padarias e farmácias – prefiro a companhia do Satanás no inferno a esses estabelecimentos; contra tradução de música e poemas estrangeiros; contra qualquer forma de auto-ajuda; contra os preguiçosos que não põem a própria criatividade para fora.
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Comentário sobre um detalhe do vídeo
    O caso de se julgar como sendo “mais inteligente” a mulher “feia” que aparece na figura é uma questão puramente psicológica, não tendo nada a ver com preconceito. Assim como a mente masculina atribui ideia de paz a uma mulher bonita, da mesma forma atribui ideia de inteligência ao que ou quem parecer austero.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Vamos rasgar dinheiro!


    Tenho percebido que os santacruzenses têm uma mania estranha de rasgar dinheiro. Semana passada, a varanda daqui de casa estava repleta de pedaços de notas de vinte, dez e cinco reais. Hoje fui pagar várias contas e recebi como troco, dentre as cédulas inteiras, algumas de dois reais rasgadas bem ao meio, perfeitamente divididas em duas partes, como se o rasgão tivesse sido intencional. Mas estavam remendadas com fita adesiva, é claro. E não eram cédulas velhas, eram novas: o curioso é que não vieram de um banco só; fiz os pagamentos em três bancos diferentes.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Ouvindo o Rei do Baião


    Estive ouvindo hoje algumas canções de Luiz Gonzaga. Ninguém representa tão bem a alma nordestina.
    Quando ouço o filho do Seu Januário cantar, o próprio Mozart parece “atirei o pau no gato”. Desculpe, Hayley Williams, mas Paramore, minha banda favorita, se transforma em nada.
    É incrível como o vento, o calor, a imensidão e o cheiro do Nordeste podem ser sentidos em A morte do vaqueiro.
    A triste partida precisa ser tombada pela UNESCO como patrimônio da humanidade!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O final da saga


Harry Potter and the Deathly Hallows. Chegará aos cinemas brasileiros neste dia 19. Estou ansioso para vê-lo.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

No princípio

    “Em primeiro lugar, não foi Deus que criou o mundo, foi o Diabo... [...] Foi o Tinhoso que criou o mundo; mas Deus, que lhe leu no pensamento, deixou-lhe as mãos livres, cuidando somente de corrigir ou atenuar a obra, a fim de que ao próprio mal não ficasse a desesperança da salvação ou do benefício. E a ação divina mostrou-se logo porque, tendo o Tinhoso criado as trevas, Deus criou a luz, e assim se fez o primeiro dia. No segundo dia, em que foram criadas as águas, nasceram as tempestades e os furacões; mas as brisas da tarde baixaram do pensamento divino. No terceiro dia foi feita a terra, e brotaram dela os vegetais mas só os vegetais sem fruto nem flor, os espinhosos, as ervas que matam como a cicuta; Deus, porém, crio as árvores frutíferas e os vegetais que nutrem ou encantam. E tendo o Tinhoso cavado abismos e cavernas na terra, Deus fez o sol, a lua e as estrelas; tal foi a obra do quarto dia. No quinto foram criados os animais da terra, da água e do ar. Chegamos ao sexto dia, e aqui peço que redobrem de atenção.”
    Trecho do conto Adão e Eva, de Machado de Assis. Para saber do resto, visite a biblioteca mais próxima.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Teofania


10 de outubro

    Hoje estive presenciando ao Santa Cruz Moda Cup, grande evento dedicado aos amantes do ciclismo. Várias modalidades competem, com ciclistas vindos de pontos diversos do estado e do país.
    Uma das apresentações mais apreciadas são as acrobacias feitas por uma equipe de ciclistas profissionais, com manobras do maior grau de radicalidade. Tudo isso a céu aberto, debaixo do sol impiedoso, típico do clima santacruzense.
Enquanto eu assistia a tudo, um forte brilho chamou minha atenção. Vinha dos olhos de uma das meninas que ficava no pódio, condecorando com medalhas os ciclistas chegados. Eu já tinha dito noutra ocasião (talvez no Twitter), que em Santa Cruz não é difícil encontrar garotas belas. As três do pódio eram belíssimas, mas aquela em particular era um fenômeno, um poema camoniano, uma ninfa do Tejo, uma divindade.
    Jamais eu havia ficado frente a frente com criatura tão bonita. Jamais mesmo! Seus olhos eram... não sei... eu via neles o azul dos mares, o verde da Amazônia, o prata do céu estrelado, o cinza da Lua, o brilho das nebulosas. Olhando-os, acredite, eu ouvia o som de uma cascata, mas uma cascata de luz viva.
    O vento soprava os cabelos dela e ela, sem parar, alisava-os. Que cabelos tão lindos! Por isso o vento fazia questão de sacudi-los. Pura seda castanha! Se eu fosse o vento, também faria o mesmo e podia deslizar por aquele rosto liso como porcelana.
    Eu a olhava sem parar, nenhuma atenção dedicava às manobras dos ciclistas. Alguns passavam, em suas bikes, voando de cabeça para baixo bem na minha frente, outros davam giros no ar em manobras perigosas, mas eu nem estava aí, só ela via. O sol estava literalmente derretendo o asfalto, mas, olhando-a, eu me sentia embaixo da sombra duma grande árvore, deitado numa rede e bebendo água de coco. Ela estava sob o mesmo sol que eu, os raios de luz que me tocavam, também tocavam ela!
    Os organizadores do evento esbanjaram genialidade quando puseram aquela divindade para receber no pódio os atletas chegados após dezenas de quilômetros de pedaladas. Para eles, era como aportar naquela ilha preparada por Vênus para receber as naus de Vasco da Gama durante o regresso das Índias. Imagino que muitos ciclistas, ao encarar a menina, assim pensaram: “Não é possível! Estou no Paraíso! Nem percebi o que me matou. Terá sido o desgaste físico desta corrida?”
    Eu queria ter tirado uma foto com ela; colocaria neste blog, e o leitor veria que o que falo é pura verdade. Mas eu estava apenas com um celular, cuja resolução da câmera não era o suficiente para captar aqueles traços divinos. Um bilhão de megapixels talvez conseguisse reproduzir as cores dos olhos dela e a beleza do seu rosto.
    Não me apaixonei por ela. Vendo-a, minha alma se ajoelhou, ou melhor, se prostrou no asfalto e, adorando-a, rezou: “Santo anjo do Senhor, minha zelosa guardadora, se a te me confiou a piedade divina!”
    Espero tornar a vê-la outro dia. Será que ela era mesmo real?

Credo in Deum


    O homem é, por natureza, um ser religioso. A inteligência o faz religiosamente proceder. É devido à enorme capacidade mental que o homem imagina o oculto, se é que seja possível imaginá-lo. Melhor dizendo, não temos controle total do nosso próprio cérebro; ele, com base na cultura aprendida, precisa preencher certos espaços, nos fazendo adotar práticas tipicamente religiosas. Em linhas gerais, é este o motivo que nos leva a querer acreditar num dado deus.
    Como o conceito de deus, Deus ou deuses é algo inserido na esfera social, são as religiões que, na maioria dos casos, entretêm as inteligências com a busca que estas vivem fazendo do oculto e inexplicável. Para quem se satisfaz com respostas estáticas, opiniões formadas, ideias redondas, comodismo mental, nada melhor que acolher o deus oferecido por determinada religião. O cérebro tem o que quer e a pessoa vive feliz em seu leito.
    Sendo Deus um fenômeno social, mais do que satisfazer suas necessidades psicológicas, cada pessoa que diz crê em Deus o faz por motivos que lhes são próprios.
    Há os que se agarram na crença do divino porque a receberam desde o berço. Muitos creem em Deus simplesmente porque cresceram pensando que ele existe, e acham melhor (e menos trabalhoso para suas intelectualidades) crer que não crer. A necessidade cerebral do oculto está saciada, para que mexer nela?
    Sendo a crença nada mais que crença, basta o menor abrir de olhos para o crente dar um chute na bunda de Deus (antropomorfismo meu!), pois Sua existência é puro folclore: o dia chega em que toda criança deixa de acreditar em Papai Noel. Os próprios religiosos comparam a fé à chama duma vela, e fazem bem. Existe coisa mais frágil que uma vela a queimar? Acreditar em ET’s que vivem numa sociedade tecnologicamente superior à nossa é muito mais persuasivo tendo por base as probabilidades matemáticas. Todo astrônomo acredita em aliens (se algum deles lhe disser que não, será porque não quer ser mal compreendido), pois conhece a imensidão do universo e sabe que é mais provável haver outros mundos como o nosso do que não.
    Há também os que dizem crê impelidos por interesses artísticos: frequentam uma igreja não por causa do deus, e sim por causa da música ou da dança. Lá, podem cantar, tocar e ter sua arte apreciada por outros.
Em verdade, ninguém segue uma religião desinteressadamente; a necessidade do oculto não depende de religiões estruturadas para ser saciada. Quando alguém entra numa das incontáveis igrejas deste mundo, está buscando qualquer coisa que só pode encontrar num meio social adequado, e as igrejas em geral são um prato cheio. Muito embora exista muitos que na igreja não fazem nada além de saciar sua sede de ocultismo, o que não deixa de ser interesse secundário: Me dê um deus aí, por favor, eu preciso agora!
    Outros afirmam crê movidos por interesses afetivos: buscam na comunidade religiosa paqueras, namoros, festas, diversão, ouso dizer comida, etc.
    Há os que dizem crê por interesses políticos: usam o usado nome de Deus para justificar atos próprios ou, às vezes, para aumentar a popularidade enquanto afirmam defender o nome da divindade imaginada pelo povo.
    Outros são ateus em segredo, como muitos religiosos, que, após tanto estudar, finalmente abriram os olhos, mas preferem fingir crê para evitar o escândalo do “clérigo ateu” ou coisa parecida. Ademais, estar à frente duma multidão faz qualquer um parecer e/ou sentir-se importante; traz algum status, as pessoas lhe veneram, chegam até a lhe ver como um enviado dos céus, você perde um pouco de humanidade e adquire alguma divindade. Caso você se candidate a prefeito ou vereador, é vitória certa!
    Outros têm tanto medo de ir para o inferno que dariam o carro novo por uma indulgência plenária. Seguem a religião mais por medo do Satanás do que por amor ao onipotente imaginado.
    É difícil existir uma religião que não realize algum tipo de lavagem cerebral. Esta se manifesta nas repetições de orações, de gestos, frases, nas pregações virtuosas dizendo sempre a mesma coisa por outras palavras, nos próprios ritos litúrgicos. Talvez seja isto o que faz um pastor estudioso continuar acreditando no deus da sua igreja: as constantes auto-lavagens que faz no próprio cérebro. A repetição faz você se convencer do que diz; mesmo que as palavras tratem de coisas que não existem, você acreditará que de fato existem. Quanto aos não-estudiosos, já se convenceram tanto que outra coisa não fazem sem pôr o divino no meio: gostam de pagar tudo o que é tipo de promessa, tais como caminhar descalço ou com pedras na cabeça; são capazes de brigar ou se intrigar por conta do deus querido; não vivem sem água benta; caem em êxtase durante encontros de orações; veem as escrituras sagradas e a doutrina da igreja como verdades inquestionáveis, etc.
    Há ainda os que buscam numa igreja interesses intelectuais. Exploram a filosofia milenar implícita na doutrina, contentes por estar aprendendo coisas que hoje não se ensinam mais em lugar algum e que há séculos atrás as pessoas já nasciam sabendo. Chegam até a rezar, pois leram que rezar devem. Esforçam-se por ter fé, suam por alimentá-la, mas depois caem na real e se dão conta de que passaram todo esse tempo andando em círculos. Veem que o trabalho mais perdido que um humano pode fazer debaixo do sol é perscrutar os ensinamentos de qualquer religião, a menos que você seja versado em estética medieval, especialista em música sacra, estudioso de arquitetura gótica, teólogo, arqueólogo, exegeta bíblico, em suma, aplicado a algum trabalho acadêmico, pois, desse modo, você se diverte e ganha dinheiro. Não busque respostas para suas aspirações filosóficas em doutrinas religiosas: chegará o momento em que você se arrependerá de ter passado tanto tempo estudando para nada, pois a lugar algum você chegou. A doutrina é ampla, porém cercada por altas muralhas. Percorridos todos os espaços, não há mais para onde ir, e você fica rodando feito uma barata envenenada.
    Mas uma coisa é certa: não há quem não duvide da existência de Deus – até mesmo Sua Santidade duvida, ou já chegou a duvidar. Essa dúvida é um pedido de socorro da razão, de vez em quando vindo implorar ao dono do cérebro que se levante do seu leito e vá abrir a janela do quarto para a luz entrar.
    Não tenha medo de ser ateu. O mundo moderno está cada vez mais desconectado das religiões. As crianças crescem conhecendo as respostas, a religião passa a ser, para elas, algo como um clube do qual tanto faz ser membro ou não. Sabem que neste mundo há coisas mais vivas para se aplicar a vida.
    Graças a Deus, o ateísmo está deixando de sofrer preconceitos. Simplesmente as pessoas não querem tocar no assunto Deus e, quando tocam, rapidamente dizem: “Sou ateu.” O interlocutor sorrir e o divino permanece em posição última, até sumir completamente das nossas vidas.
    Deus pode facilmente ser substituído por qualquer coisa; substituição é necessária para que a necessidade cerebral do ocultismo permaneça saciada. Se é a grande capacidade racional humana que nos leva a indagações sem respostas e, por isso, inventamos um ser divino que tudo responda, essa mesma capacidade racional, desde que devidamente educada, pode fabricar as mais variadas formas de idolatria e até suas próprias ilusões, pois o homem não vive sem ilusões. Não imagine um deus, existem meios mais eficazes e menos danosos de saciar sua mente. Fragmente a idolatria, adore a tudo e a nada você adorará; dessa forma, a idolatria, que está no seu cérebro como as sensações (medo, ânsia, alegria, etc.), ficará praticamente apagada, embora aja sem parar.
    Será que as outras formas de vida inteligente espalhadas pelo universo também cultivam algum tipo de religiosidade por serem capazes de pensar?

Sobre o voto


    Os brasileiros exageram quando o assunto é eleição. A mídia e as pessoas transformam um simples exercício de democracia em algo sobre-humano, mágico, poético, como se o que fôssemos escolher fossem novos deuses para povoar o Olimpo. Os que levam o assunto numa perspectiva mais matemática não enxergam outra coisa senão os números das pesquisas, com gráficos subindo e descendo, feito os botões duma mesa de mixagem de som.
    Nessa mesma linha de exagero estão frases como: “Votando, você muda o mundo”; “Cumpra o seu ideal de humanidade: vote”; “No voto você diz quem é.” É a velha história de canonizar uma ação e deixar de lado o processo construtor, desenrolado na história de modo complexo. É o agir dos pernilongos: se jogar contra a luz e se esquecer do meio iluminado.
    Eis onde brilha as luzes do discernimento do povo deste país: na adrenalina dum momento passageiro. Esta valorização do espetáculo trouxe a vergonhosa obrigatoriedade do voto. Grande desrespeito contra o povo é o voto obrigatório. Por que obrigá-lo? O que o país perderia se uma pequena parcela das pessoas pudesse ter o direito de não querer votar?
    Uma das frases mais ouvidas ou lidas nos órgãos públicos é “agora é lei”. Tal coisa agora é lei. Levar dois documentos no dia da votação agora é lei. Lei um carlh!... Isso não passa de um chute na cara do cidadão e, principalmente, de uma manifestação do atraso cultural de um país. Lei. O que não falta aqui são leis. São tantas que elas mesmas se entrelaçam na burocracia que delas nasce.
    Quando obrigam você a votar, estão atando uma corda ao seu pescoço e puxando-o para percorrer um caminho que você, desde que tenha juízo, sabe muito bem percorrer só. Dizendo isto, até pareço inimigo da cidadania! Sou uma espécie de ateu desta divindade chamada voto, cujo culto é imposto pelo “clero” nesta Idade Média que o país escolheu para vivenciar.
    É claro que a corrupção entre os políticos é grande, bem maior do que aparenta ser: a imprensa mostra uma parte, a outra permanece escondida e o resto o povo finge que não vê. Esse povo precisa mesmo dumas boas chicotadas de leis para aprender a se comportar. Mas nem só de chicotadas o animal é domesticado. Talvez a obrigatoriedade do voto, bem como todo esse exagero em torno do ato de votar, venham da mentalidade do pós-ditadura, estendida até os dias de hoje. Quando finalmente a gente reconquistou o direito do voto popular, endeusamos a ação da escolha dos candidatos. Além disso, votando, nos sentimos poderosos... É sadio imaginar coisas.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Em quem votar?



    Sabemos que nosso país, nestas eleições, censurou os humoristas, proibindo-os de se espelhar na pessoa dos candidatos para fazer a necessária comédia. Em compensação, as propostas dos presidenciáveis e demais candidatos a menor hierarquia estão substituindo o humor feito por profissionais.
    Primeiro vem a linguagem usada, tão vulgar que nos sentimos desvalorizados. Estão falando a cidadãos ou a cães recentemente alfabetizados? Por outro lado, os políticos sabem o quanto a educação brasileira é companheira do nada; se falassem a língua “culta” dos jornais, ninguém entenderia coisa alguma.
    Em seguida, vêm as propostas, que na verdade não são propostas, são única e claramente as obrigações de qualquer pessoa que cuida dos negócios públicos. Só que, na propaganda, tudo é enfeitado, e as propostas, quando de fato as há, transformam-se em festa musical.
    No meio desse picadeiro de promessas, há os ataques aos adversários. Fala-se em ataques, lembramos de guerra. Mas nesta campanha eleitoral, quem nos dera houvesse guerras autênticas! Os ditos ataques são tão covardes, baixos, burros, tempestade num copo de mijo... são tão pueris, duma estética estratégica horrorosa, que, aos meus olhos, o candidato me diz exatamente isso: “Não vote em mim!” Sigo o pedido e dirijo os olhos a outro; não demora muito e este defeca conversas piores. Assim vou migrando até as opções zerarem.
    Em quem votar? Quero votar, quero exercer meu papel na escolha dos meus representantes no governo! Não quero anular meu voto nem votar em branco. Quero candidatos, exijo políticos! Alguém sabe onde os posso encontrar?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O dia do voto


    Depois de receber tudo o que é esclarecimento sobre como usar a urna eletrônica; depois de ver várias vezes ao dia na TV criativos comerciais incentivando a boa escolha de candidatos e a importância do nosso voto; depois de ouvir tão grande número de instruções equivalentes a um curso para formar eleitores conscientes (coisas básicas, mas o brasileiro adora ouvir o que já sabe como se nunca tivesse sabido e se sentir feliz com a re-reprise das instruções mais elementares); depois das campanhas eleitorais com carros-de-som o dia inteiro enchendo a troposfera com paródias musicais e vinhetas onde se ouve os números dos candidatos até a náusea nos invadir, chegou, finalmente, o dia em que o país escolhe os seus novos governantes.
    As escolas públicas estão lotadas de eleitores. A boca de urna trabalha duro para conseguir votos a mais de última hora; parece esforço medíocre e vulgar, mas o resultado é significativo. Nas ruas, o chão está coberto por um tapete de folhetos contendo fotos de candidatos, à semelhança de neve, cada papelzinho um floco.
    Longas filas se formam ladeando salas de aula. Uma delas está parada faz uma hora e meia, as pessoas impacientes. Isso porque uma velhinha está ocupando a urna eletrônica (para quem não sabe o que é, trata-se duma espécie de calculadora grande, em forma de caixa, com display preto e branco, orgulho dos brasileiros, símbolo da modernidade no país). Ninguém se preocupa em saber se a velhinha morreu ou se está apenas assistindo ao brilho branco da telinha. Levou dez segundos para digitar o número errado do candidato e até agora não saiu do posto de votação.
    Ainda no mesmo dia o povo saberá os nomes dos vencedores – isso é muito importante, tanto que nem eleição haveria sem a rapidez da apuração!

No Toyota


21 de agosto

    Hoje, pelo final da tarde, peguei com meu primo um Toyota para irmos ao bairro Oscarzão. Como o caminho se faz pela PE-160, é costume os moradores daquele bairro pegarem Toyotas com destino a Caruaru ou Taquaritinga do Norte. Subimos nos bancos de trás, levando várias bolsas pesadas.
    Aqui em Santa Cruz, no primeiro cruzamento para se entrar na cidade, foram colocados vários semáforos, pois o fluxo de veículos entrando e saindo é muito grande. O problema é que uma dessas sinaleiras permanece no vermelho por uns três minutos ou mais e libera apenas míseros trinta segundos de sinal verde. A fila de veículos parados é longa na pista, todos aguardando a rara oportunidade do sinal aberto.
    Mas o motorista do nosso Toyota não era desses que esperam. Enfiou o carro pelo acostamento, beirando a fila, e saiu com mais de mil, passando por cima de buracos, paralelepípedos que fora do lugar jaziam ao lado duma obra de reforma, pedaços de pau, lombadas – não sei como os pneus aguentavam! Parecia que estávamos fugindo da polícia. A cena lembrava um filme de ação, onde o motorista não quer saber o que tem pela frente. Meu primo e eu estávamos com pressa e adoramos a velocidade, não obstante tivéssemos de nos segurar firme.
    Enquanto furava tudo, nosso condutor gritava pela janela: “Caruaru!” Nem colocava o pé no freio; a cada grito parecia acelerar mais. Para cortar caminho, meteu o carro por dentro dum posto de gasolina. Logo chegamos ao último ponto de parada. Foi quando subiu uma mulher que, ao sentar-se, perguntou: “Senhor motorista, espero que o senhor não seja desses que correm demais.” “De modo algum, senhora!”

segunda-feira, 26 de julho de 2010

De cima para baixo

Ontem acompanhei a passagem da ISS de cima para baixo, já que não foi possível acompanhar de baixo para cima por conta da nebulosidade. Com isso quero dizer que, na hora da passagem, acessei, pelo site da Nasa, a câmera situada na parte externa da Estação e vi ao vivo o que os astronautas viram quando por aqui por cima passaram: um mar de nuvens, pouco antes de mergulharem no lado escuro do planeta. Lá embaixo (ou cá embaixo), escondidos no véu, estavam Palmares e eu, insignificantes micróbios na imensidão que é a Terra.

domingo, 25 de julho de 2010

A deusa do rock



    Estou pensando em estudar a arte da escultura só para esculpir com minhas próprias mãos uma estátua da Amy Lee em tamanho natural no melhor bloco de mármore do mundo. Depois, colocaria a obra no local mais digno da minha casa, de preferência num altar feito especialmente para abrigá-la, e todos os dias me ajoelharia diante dela, pois não é o suficiente adorar aquela deusa apenas vendo suas fotografias e vídeos ou ouvindo sua voz a cantar.
    Escrevo agora, mas nem para o papel olho, quero sentir no mais profundo do meu ser o brilho dos olhos dela reproduzidos numa imagem diante de mim e deixar minha mão deslizar na folha enquanto estou possuído por ela, enquanto minha alma inteira foi sugada por esses olhos que assustam muita gente, mas a mim fazem o que fazem e só eles conseguem fazer.
    Sei que a Amy Lee, como deusa mortal e não onipresente, não sabe que existo e, se soubesse, não se importaria nem um pouco comigo. Mas isso não diminui a adoração que a ela dirijo. Os deuses não precisam dos fiéis. Ela é a deusa, eu o adorador; cada qual deve permanecer na sua posição, e viva os meus exageros! Que seja eterna enquanto dure a minha idolatria a essa mulher que quero tê-la como sobre-humana.
    Eis um dos meus clips favoritos de Evanescence.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A nova versão do monstro do lago Ness


21 de julho de 2010

    Ontem o rio Una trouxe mais um motivo para despertar admiração nos palmarenses: uma serpente gigante. Não significa que se tratasse dum animal fabuloso, era gigante dentro dos padrões naturais da sua espécie, mas como não entendo de cobras, não sei dizer a que espécie aquela pertencia. Nem cheguei a vê-la, quem contou-me a história da aparição foi minha mãe e Mariana, que presenciaram o ocorrido.
    As duas tinham acabado de chegar de Caruaru. A tarde estava se findando. Antes de descer do ônibus, notaram grande quantidade de gente reunida embaixo do viaduto Prof.ª Lúcia Paiva, todos apreciando algo no rio. Isso as fez de imediato pensar: “Só pode ser mais uma enchente!” Ao descer do ônibus, logo correram em direção à multidão, a curiosidade humana as impelia. Chegando lá, viram que as pessoas estavam olhando, boquiabertas, uma tremenda cobra que no meio das águas parecia boiar. Segundo Mariana, o réptil movia-se devagar, serpenteando, como lhe é natural, mas sem sair do lugar. Parecia estar gostando do sucesso que fazia diante da plateia. Às vezes, erguia sua cabeça de monstro e abria a boca, assustando a todos, arrancando interjeições do público. Naquele trecho às margens do rio, se formara verdadeira farra. Adultos, crianças, velhos, bêbados, doidos, raparigas (na acepção brasileira da palavra), gente de zona, maloqueiros, aleijados, pessoas bem vestidas, mal vestidas, tudo isso se encontrava lá. Os motoqueiros paravam para ver, os carros que passavam também paravam, muita gente subia na ponte para ver melhor. Dessa vez não foi um teatro que as circunstâncias montaram, como aconteceu no Campo da Rede. Dessa vez tínhamos um zoológico. Para um povo que jamais visitou um de verdade... É o povo do mesmo Brasil que deixou sua principal coleção de cobras virar cinzas num incêndio causado por negligência.
    A noite veio e muitos ainda lá permaneceram na companhia da cobra gigante. No dia seguinte, rola pela cidade boatos de que a serpente não passava de ilusão de ótica. Uns dizem que era um tronco, outros uma fita, outros uma rede, outros uma lona. Se realmente o que viram não era uma cobra, é a segunda vez após a enchente que os palmarenses montam uma situação imaginária tida como real, o que deixaria claro o quanto a população estaria traumatizada com relação à natureza. Primeiro foi o rompimento imaginário da barragem do Prata; agora, uma serpente imaginária. Mas minha irmã viu a cobra com seus próprios olhos, ainda sob a luz do sol, e afirmou ser de fato uma cobra verdadeira, do tipo capaz de engolir uma capivara.

A serpente de Frei Damião

   Não acredito que vou escrever sobre uma merda dessa!
   Reza a lenda de Palmares que, durante uma das raríssimas visitas que o frade capuchinho fez à cidade, disse haver uma serpente enterrada abaixo da Praça Ismael Gouveia e que, um dia, viria uma grande enchente para desenterrá-la. Neste caso, a profecia se realizou com precisão extremamente objetiva.
   Em verdade, já ouvi muitas vezes essa história das palavras do religioso desde que na cidade moro, mas não há unanimidade no ponto onde a serpente estaria enterrada: uns dizem ser no Cocão do Padre; outros, na catedral, e que foi o diabo quem lá a pôs; outros afirmam ser no meio da Avenida Estácio Coimbra; outros, no fundo do rio ou em algum lugar perto da usina. Historicamente, o que o famoso frade provavelmente disse e permaneceu na memória do povo foi alguma metáfora mal compreendida envolvendo serpente e Palmares. Bem sabemos que na Bíblia serpente tem significado específico que vai além de réptil.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Assassinatos que viram sucesso na TV

    A imprensa brasileira, principalmente a televisiva, precisa de um médico para curá-la dessa horrível doença que a faz dar tanta importância a um caso particular de assassinato, como foi o de Isabela Nardoni (dividido em dois grandes capítulos) e, agora, o de Eliza Samudio.
    Talvez uma reunião composta por um sociólogo, um psicólogo, um historiador, um filósofo e um jornalista experiente possa explicar esse fenômeno de transformar uma ocorrência policial isolada, que cabe exclusivamente à justiça resolver, semelhante a tantas outras vistas e esquecidas diariamente no país, em algo de “importância” nacional. Dar-se sempre o mesmo: a presença do suspeito, julgado prematuramente pela imprensa e pelo povo (que se deixa conduzir pela imprensa); a presença do delegado, transformado numa espécie de herói; a vítima, que antes de morrer era pessoa invisível como todo mundo e, de repente, vira celebridade defunta; e, enfim, a presença de terceiras pessoas que vão aparecendo e tornando o caso mais interessante. No fim de tudo está o júri, segundo capítulo da trama, colocado no ar após uma pausa. As pessoas envolvidas no caso passam por verdadeiro Reality show. A cobertura é monótona, cansativa de se acompanhar, cheia de repetições, mas dá tremenda audiência que certamente os estudiosos mencionados acima saberão explicar, por isso não segue com tanta devoção à necessidade do resumo abaixo abordada.
    Não permito que a mídia enfie na minha cabeça tudo o que ela quer. Tenho as áreas do meu interesse, com temas nos quais me aprofundo porque me fornecem consequências úteis depois. Jornais impressos e suas edições on-line são meus principais enviadores de informação. Nos telejornais, tudo se exibe muito rápido, temos dificuldade em acompanhar o que as reportagens dizem, não é raro havê-las com linguagem confusa. Sabemos que na TV o tempo é curto e caríssimo, as coisas precisam ser resumo de resumo, tudo é cronometrado. Isso também vale para reportagens. Mas por eu dizer não ao turbilhão de informações que as mídias jogam em cima de nós, não significa que eu não esteja informado sobre assuntos inúteis para mim – como a oscilação do dólar, por exemplo. Todas as pessoas estão, por que eu ficaria de fora? Certas coisas que não me interessam nem um pouco chegam aos meus ouvidos sem que eu queira. Pelo menos interessam a outras pessoas e não sou obrigado a sentar para conhecer essas subnotícias.

terça-feira, 13 de julho de 2010

A primeira estrela na camisa da Fúria


    Desde a despedida do Brasil nas quartas de final, tudo o que eu queria nesta Copa era que uma seleção ainda não campeã conquistasse o seu primeiro título, assim o mundo ficaria ainda mais distante de alcançar o nosso penta-campeonato. E não havia seleção mais merecedora que a da Espanha. Vibrei na final como se estivesse torcendo pelo Brasil.
    Sempre fui grato à Espanha por ter-nos dado Dom Quixote e o seu autor, Picasso, El Greco, Santiago de Compostela, inspiração para José Saramago, o castelhano – idioma divertidíssimo –, o El País, a América Latina, o flamengo, os ciganos, as mulheres da Andaluzia, entre muitas outras coisas. Por outro lado, o que a Holanda nos deu, além de Erasmo de Rotterdam? Apenas Maurício de Nassau e algumas pontes no Recife.
    Após a final deste 11 de julho, ficou evidente que o futebol há tempo deixou de está nos pés de craques para está nas cuidadosas armações técnicas iguais às do futebol europeu.

Estilo vlog

    Com toda essa moda de vlog, pensei em fazer vídeos no estilo dos que os vlogueiros fazem. Mas acho que não vai dar certo, sempre fui bom atrás das câmeras, nunca diante delas. Inventar de publicar tal tipo de vídeo no YouTube é um ousado atrevimento meu. Sou escritor, não sou aspirante a ator! Derramar um caldeirão de críticas satíricas sobre Justin Bieber, Crepúsculo e emos, diante duma câmera, não é e nem será minha especialidade.
    Só que o evindentíssimo fato de eu não ser bom em determinado assunto não me impede de fazer de pelo menos uma experiência no setor. Adoro experiências, tentativas, colher resultados, mesmo quando o fracasso for tudo a se esperar. Não consigo dormir enquanto não achar respostas para coisas que durante o dia deixaram minha curiosidade inquieta. Já pensei em morrer só para ver se existe ou não vida após a morte – dê descarga nessa última frase!
    Chega por aqui! Filosofei demais! Vou dizer um palavrão para ninguém levar isto tão a sério, pois não é: cu. Pretendo somente justificar por que fiz um vídeo no estilo vlog.

O Twitter segundo PC Siqueira


    No vídeo intitulado Baratas, fim do mundo em 2012 e Twitter, o brilhante filósofo do YouTube diz com toda a retidão em que consiste o Twitter. Ponho aqui suas próprias palavras, com algumas alterações que não modificam o sentido, apenas servem para melhorar a coesão:
    “O twitter, pra quem não sabe, é um site onde você fala das coisas que está fazendo pra outras pessoas que não ligam para o que você está falando e só ligam para o que elas [mesmas] estão falando. Você pode seguir as outras pessoas pra receber a informação que elas passam para você a fim de você fingir que liga para elas, enquanto elas também podem seguir você ou você falar alguma coisa que não tem o menor sentido e ainda ter uma boa desculpa dizendo que uma outra pessoa está lendo [os seus tweets]. É aquela coisa de você falar sozinho ou postar no seu blog – que ninguém ler – mas que, no Twitter, [essas coisas inúteis] fazem todo o sentido. Todo mundo fala coisas para si mesmo e reclama dos outros quando eles estão falando deles próprios. Então, [o Twitter] serve basicamente para você ficar falando das coisas que você quer, das coisas que você acha importantes ou não importantes para você e ao mesmo tempo poder criticar todas as outras pessoas que estão fazendo o mesmo que você.”

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Parodiando o Gênese


    Hoje eu estava conversando com minha mãe sobre a correria de toda a população quando pensamos que havia estourado a barragem do Prata, e nessa conversa percebemos uma peculiar anedota que pode ser feita com relação à igreja Arca de Noé (foto), particularmente no contexto do corre-corre mencionado.
    Naquele dia, veio a notícia de que um dilúvio inundaria (outra vez) a cidade inteira, e todos deviam procurar abrigo, pois o tempo era curto. Pegamos nossos animais e corremos de casa, rumo à primeira colina avistada. Mas esse não foi o melhor itinerário se quiséssemos seguir os ensinamentos bíblicos – deveríamos, sim, ter corrido para a arca de Noé, afinal, ela se encontra atracada bem perto da nossa residência, e como íamos levando animais...
    Meu pai é que se encaminhou à arca logo depois de saber do dilúvio vindouro: ao lado da embarcação (ou igreja!) é que bombeiros montaram acampamento, por isso ele foi lá saber se a notícia era verídica. Voltou correndo ainda mais quando os bombeiros disseram que podia ser.
    Então, fica a lição para os moradores do bairro Santa Rosa: no próximo dilúvio, abriguem-se na arca – do próprio Noé.

Na hora das refeições

    Sou um perigo numa mesa de refeições. Se vou colocar feijão no prato, metade cai fora. O mesmo acontece com o arroz. Se é macarrão, espalho-o pela mesa e o que consegue cair no prato fica pendurado para fora. A carne é preciso segurá-la bem, com o garfo, quando a estou cortando, senão ela vai parar longe. Outro dia quase fraturei o crânio de um amigo quando arremessei, sem querer, um pedaço de carne desgovernado sobre sua testa. Por falar em garfo, sempre os entorto quando os uso. Se você gosta dos seus garfos, não os empreste a mim. Caixas de leite, não sei dominar. Em minhas mãos, parecem mangueira de bombeiro, esguichando líquido branco. Diferentemente do feijão, o leite nunca acerto no alvo. Caso o conteúdo da caixa consiga cair dentro do copo, sai com tanta força que logo se espalha por todos os lados, sujando a mesa e tudo ao redor. Faz pouco tempo que, numa elegante pizzaria, derramei um copão de milk shake na calça – até as meias se lambuzaram. Se ponho manteiga numa bolacha, logo ela cai no chão com a parte da manteiga virada para baixo – já estou acostumado a apanhar do chão as comidas que derrubo e imediatamente engoli-las. Se encho a boca de espaguete, há os que ficam pendurados para fora, difíceis de sugar, e logo caem sobre minha camisa basta o mínimo movimento com a cabeça. Bolo, em minhas mãos, vira pó. Se como cachorro quente, oitenta por cento dele se desmancha no chão. Sempre me engasgo com sucos de frutas ácidas, como limão.
    Depois de tudo isto, não preciso nem dizer que não sei cozinhar. Tentei fritar um ovo uma vez e quase incendiei a casa.
    Eu me esforço por dominar a comida, mas ela me odeia. Sou uma espécie de repulsor de alimentos, como se estes fossem a polaridade positiva de um ímã se encontrando com a polaridade positiva do ímã que sou.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A verdade na boca do PC Siqueira

    PC Siqueira chega a ser genial no que fala em alguns dos seus vídeos. Neste abaixo (dividido em duas partes), ele faz uma reflexão realisticamente brilhante, que também representa a totalidade da minha opinião sobre o tema. Poucos conseguem dominar essa forma de nos trazer a pura face da realidade, falando com uma sinceridade que aposto ninguém ainda ter visto tanta antes de assistir a esse vídeo. Parece até que o PC está a se confessar diante dum padre – muito embora não haja confissão tão reta e sincera como esta que você verá.

domingo, 4 de julho de 2010

O que aconteceu


02 de julho de 2010

    Não vou começar com introdução, a data de hoje vale muito bem como uma. Todos sabem o que neste dia aconteceu e a imprensa já dissecou até a alma do assunto, não bastando o corpo. Aqui vai uma breve opinião minha sobre o tema.
    Desconheço se a Seleção Brasileira tem uma equipe de psicólogos, assim como tem uma de preparadores físicos. Se não tiver, precisa ter. Se tiver, deve ser mais valorizada. Tínhamos tudo para ganhar o jogo e a Copa, fomos os absolutos dominadores no primeiro tempo e um pequeno tropeço emocional do time bastou para alguns dos melhores jogadores do mundo perderem de vez todas as suas qualidades.
    Confiar apenas na experiência profissional dos titulares não é o bastante: especialmente numa partida conhecida por “mata-mata”, eles precisam saber driblar as pressões; saber de antemão, por meio da ciência aplicada, como se comportar caso as coisas mais imprevisíveis venham a acontecer. A poderosa indústria que é o futebol tem capacidade para desenvolver profundas técnicas de treinamento mental que permitam o jogador usufruir ao máximo o que é capaz de fazer. As chamadas “mal fases” de grandes craques são consequência dessa carência de treinamento mental. Será que esse medo de inovação científica caminha junto com o medo que a Fifa tem de aplicar tecnologia no auxílio à arbitragem?

***

PS.: Repudio a conhecida hipocrisia que muitos brasileiros ostentam quando a Seleção perde, dizendo eles que acharam bom o resultado, que estavam torcendo para a outra seleção ou outro tipo de conversa fiada.

Aluga-se

    Aluga-se uma casa no renomado bairro São José, Palmares-PE. Doze quartos, sete salas de estar, quatro salas de jogos, três salas de janta, duas cozinhas, quinze banheiros, duas copas, dois corredores onde se pode brincar de corrida de motos, oito varandas com portões banhados em prata, que dão para um grande alpendre. Nove garagens, quatro das quais são subterrâneas e duas com capacidade para abrigar grandes caminhões. Todas têm portão automático. A casa fica dentro de amplo terreno, amurado com cerca eletrificada, cheio de árvores e três enormes jardins, espelhados no modelo dos jardins do Vaticano. Conta com três piscinas olímpicas, quiosques e duas quadras. O aluguel custa R$ 10,00 por semestre. Infelizmente, não dá para fazer preço menor.
    Aluga-se uma casa no bairro Nova Palmares, próximo à caixa d’água. Três metros quadrados, uma porta, apenas duas goteiras e piso de terra batida pelo melhor batedor. As quatro paredes de taipa provaram resistir a chuviscos. O local conta com a melhor vista para a cidade e para os canaviais. O aluguel custa somente R$ 2.500,00 a diária. Aproveite enquanto estamos em promoção.

Versos

02 de julho de 2010

    Ontem fui ao centro da cidade reclamar da mudez dos telefones no Santa Rosa. Mesmo no dia da simulação do Apocalipse e na semana subsequente à catástrofe, as linhas telefônicas do bairro não apresentaram o menor problema. Mas, desde segunda feira, aparelhos fixos de várias residências estão funcionando exatamente como se estivessem desconectados da tomada.
    Só que, quando cheguei ao centro e me deparei com toda aquela desolação, lama em todas as ruas, fios e postes ainda no chão, lojas parecendo cavernas úmidas e escuras, montes de lixo por todos os cantos, tratores tentando limpar as ruas, gente – provavelmente faminta – catando o que sobrou dos alimentos de supermercados, buracos, engarrafamentos, caos, quando com tudo isso me deparei, o sentimento de piedade foi o único que restou em mim. Tirei do bolso os cinco centavos que levava e o depositei na palma da mão aberta da cidade.
    Pelo que ouvimos aqui em carros-de-som e rádios, a terra dos poeteiros escolheu os seguintes versos para retratar sua atual situação:

Senhor, consolai os que choram
Curai os que sofrem
Nas ruas, nos guetos
Nos becos escuros
Na chuva, no frio, sem teto e sem pão.

    Além desses acima, esses abaixo também retratam bem o que vemos:

Uma esmola pelo amor de Deus
Uma esmola
Meu! Por caridade
Uma esmola
Pr'o ceguinho, pr'o menino
Em toda esquina
Tem gente só pedindo...
Uma esmola pr'o desempregado
Uma esmolinha
Pr'o preto pobre doente
Uma esmola
Pr'o que resta do Brasil
Pr'o mendigo, pr'o indigente...

Estática situação

28 de junho de 2010 *

    O que fazer numa cidade arruinada? Não existe lojas onde possamos comprar seja lá o que for diferente de comida. Não há o mínimo lugar para recreação. Onde quer que vamos, pelo caminho só se encontra lama. As escolas não mais funcionam. O comércio parou. É quase como viver num sítio, distante do mundo urbanizado. Minha sede de leitura era abastecida pela biblioteca municipal. Agora, nem sei se os seus livros sobreviveram. Estou apenas relendo algumas coisas que tenho em casa, como a Antologia Poética de Drummond e alguns capítulos de Anjos e Demônios, de Dan Brown. Não posso fazer pedido de livros novos porque o Correio desceu na cheia. A saída é a internet, quando funciona. Já li quase toda a Wikipédia, rodei o mundo inteiro no Google Earth, vi tudo o que é de clip de Paramore e Evanescence no YouTube, esquentei meu inglês, meu espanhol, até arranhei um pouco de italiano. Mas não me permito ficar muito tempo na frente do computador. Para se ler e se escrever é que o papel foi inventado.
    No mais, tudo ao redor, fora de casa, está sem vida, num estado de morte caótica. O céu fechado, o que é natural em pleno inverno.
    Hoje o rio resolveu invadir a cidade (ou ruínas) de novo, porém, sem intenções maléficas, quis apenas lembrar que as construções encontram-se bem dentro dos seus domínios e brincar um pouco, sujando de lama os locais que já foram limpos. É um rio de pitoresca personalidade; admiro-o muito!
    Depois do que os palmarenses vivenciaram semana passada, podemos dizer que a enchente de hoje foi banal. Nem chegou a ser muito comentada entre a população, mesmo tendo sido quase igual à então “devastadora” de 2000. O fato de não mais haver o que evacuar ou ser destruído contribuiu para a pouca atenção dada a esta segunda invasão das águas. No entanto, uma cheia significativa dias após a que acabou com tudo é um evento raro na bacia do Una e sem precedentes na cidade.
    Não vou dizer que não é bonito o espetáculo do rio tomando conta das ruas. Acompanhei a invasão de hoje – assim como a da semana passada – e me encantei com a força da natureza.
    O vídeo abaixo foi feito hoje pela manhã e mostra importantes ruas da cidade.



* Data em que este texto foi escrito. Sua publicação se adiou por conta do não funcionamento da internet, problema causado pelo caos na cidade desestruturada.

domingo, 27 de junho de 2010

Os dias após a enchente


    Que esta pobre cidade nunca recebeu a atenção de tantos helicópteros, isso é certo. Por todos os lados ouvimos barulho de rotores. São azuis e vermelhos, como os da Defesa Social; brancos, como os das emissoras de TV; verdes com manchas escuras, como os das forças armadas. Ontem mesmo vi um monstro militar pousado num campinho onde meninos jogam pelada, entre vasto matagal, atrás do Batalhão. A nave parecia um helicóptero de brinquedo que ainda guardo.
    Nas ruas, o exército distribui comida e água para a população. Os soldados e a carga vão em caminhões pintados. Parabenizo o excelente trabalho que o Exército Brasileiro está fazendo em prol dos afetados direta e indiretamente pelo ensaio do Apocalipse.
    Li a pouco uma matéria noticiando que ajuda internacional chegará à Zona da Mata.

Relatos de pessoas ilhadas


    Um conhecido meu, na noite em que a água fazia das ruas palmarenses um único rio de correnteza feroz, só conseguiu se salvar porque subiu na cumeeira do primeiro andar da sua casa, onde permaneceu se equilibrando por cerca de 36 horas. Ele e a sogra. Relatou-me que, no final da madrugada, o dia começando a amanhecer após uma noite de escuridão absoluta por todos os lados, frio e chuva, viu, não muito distante, dois bois mugindo. Os animais nadavam sem direção entre as ruas, levados pela enchente, procurando terra firme. Não creio que morreram afogados, bois são excelentes nadadores.
    Outro conhecido enfrentou a cheia inteira em cima do palco armado no pátio da sulanca, onde seria festejado o São João. Não estava só – um grupo inteiro de pessoas ficou empoleirado na armação, que passou a noite se balançando como uma caravela encalhada. Quando todos pensavam que o palco ia virar, olhavam um para o outro, diziam “É agora!” e corriam para o outro lado, a fim de, com seus pesos, equilibrarem a estrutura.
    Soube ainda de pessoas que se salvaram abrigadas no topo de pés de coco. Outras que permaneceram em cima de baixas colinas que, literalmente, viraram ilhas.

Uma obra de Mozart

    Ontem estive ouvindo a Dominicus-Messe, KV 66, de Mozart. É tão bela que dá vontade da gente acreditar em Deus. Não é como essas missas celebradas pelo Brasil afora, que, assistindo-as, damos graças a Deus por sermos ateus.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O cheiro do lixo

    Fui hoje, com Cícero, dar uma olhada na destruição das ruas do centro e tirar algumas fotos. Diferentemente do que o presidente da República falou na coletiva em nossa cidade, não vimos ninguém alegre ou sequer sorrindo enquanto arrumavam os destroços. Os rostos com os quais cruzamos eram de luto, cansaço, esforço para afastar a indisposição. As pessoas com quem o senhor presidente se deparou sorriam ou pareciam alegres porque estavam diante do famoso Lula. Só isso. Gente encarregada de algum tipo de chefia (especialmente um presidente duma nação) está cercada de falsidade, bajuladores, a verdade jamais é dita diante delas, sua vida pública é um teatro. Somente disfarçado de pessoa comum o Lula poderia ver os rostos reais dos palmarenses.
    A cidade inteira fede a depósito de lixo orgânico. A lama que cobre as vias virou um tipo de lavagem, pois o lixo mau cheiroso se fundiu a ela, formando uma mistura homogênea, uma sopa de nojo.
    Tratores, caçambas e gente trabalham sem parar na remoção dos escombros, mas ainda falta muito para a normalidade dar sinais de que um dia vai voltar.

Visitando um chefe de Estado

    Ontem, visitei o presidente Lula. Na verdade, ele é que veio visitar as ruínas de Palmares. Mas como fui até onde ele estava, posso dizer que fui visitá-lo.
    Não sou fã do Lula, ultimamente minha visão política está sendo até demasiado esquerdista, bem diferente do atual governo federal. Minha vontade era unicamente ver um chefe de Estado em pessoa, coisa que nunca me havia acontecido. Chefes de Estado, sejam como forem, são chefes de Estado.
    O presidente pousou bem em frente a Rádio Cultura, na colina conhecida por Planalto da Comunicação. Veio com alguns ministros e outros humanos, comitiva que ocupou dois helicópteros militares.
    As aeronaves não eram simples máquinas de voar: eram monstros! No momento em que o helicóptero do presidente estava pousando, tive de me agarrar a um corrimão para não ser levado pela força do vento. Lula usava uma camisa duma cor que na nossa língua se traduz por vermelho fogo gritante.
    Houve uma reunião na faculdade ao lado, com o presidente e a comitiva, depois todos os forasteiros saíram para dar um passeio pelo que sobrou das ruas; a piedade popular chegou a inventar que o mandatário de barbas chorou ao ver a desgraça da cidade; nada de anormal. O importante é que vi o presidente, eu que tenho São Tomé como o meu apóstolo favorito.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

As Crônicas de Nárnia (o terceiro filme da série)

    Já está sendo divulgado o trailer de As Crônicas de Nárnia – A viagem do peregrino da alvorada, que chega aos cinemas brasileiros dia 10 de dezembro. É uma das minhas séries de filmes prediletas. Adoro toda a magia da obra de C.S. Lewis e principalmente a adaptação que a Disney, em parceria com a Fox, fizeram para o cinema. Assistam ao trailer. Dá vontade de sair correndo para o cinema, independente dos meses que ainda faltam para o lançamento. Estou ansioso para ver esse filme em 3D!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Entre escombros

    Ontem, calcei um par de botas, dessas usadas para caminhar nos esgotos, e fui dar um passeio pela Avenida José Américo de Miranda. As lojas que não desabaram ficaram sem as paredes dos fundos. Outras, estão com a estrutura frágil ou ameaçadas de desabamento. Da oficina de um conhecido meu só restou a parede da frente e, dentro, há uma Combi jogada no meio do entulho, como carro de brinquedo, e uma Besta com os pneus para cima noutro recanto.
    Agora a pouco passou por aqui uma frota de helicópteros das forças armadas voando para o norte. Só está faltando a presença de veículos da ONU para a paisagem se igualar a de lugares atingidos por bombardeios.
    O vídeo seguinte, feito pelo JC Online, mostra uma pequena fração da destruição que a cidade sofre.

Para quem ama

Acho que vou escrever um poema falando de amor.

Estou muito romântico hoje – né?!

Minha cidade desceu na cheia do rio Una, o que sobrou falta pouco para desabar e, o mais importante: as catástrofes me inspiram.


Liguei o rádio numa rádio fora do ar.

O chiado favorece minha inspiração, que rima com

Papelão, balcão, sabão, ladrão.

Som na caixa fora do ar!


Eu não estou bêbado, nem pirei, isto aqui é um poema – né?! –, que

Fala de

Amor.

Quando escrevemos poemas, devemos abandonar completamente a prosa, senão não teremos poema e se o autor disser no poema que o que ele escreveu foi um poema,

O autor pirou.


Sei lá! – né?! – Não gosto de repetição, só acho que vou escrever um poema falando de amor.

Mas sem repetição.

Como o amor.

O amor não tem repetição.

O chiado está me dizendo, não em prosa, em poesia, de tal forma que poesia faço,

O chiado está me dizendo que o amor é um chiado.

Cada ¡tzchzzchh! é irrepetível.


Tenho que me lembrar de que isto é um poema,

Não uma prosa.


O amor é um macaco andando de avião;

É um pedaço de plástico enrolado num sabão.

É um dinossauro fazendo cocô;

É as pétalas de uma flor.

É um azulejo português;

As barbas de um freguês.

É Deus, é Alá, é Javé;

É as pernas de Seu Mané.

É o Flamengo, é o flamingo, é o Corinthians;

É o Botafogo-go-go-go.


“Salve o Tricolor Paulista...”

Onde canta o sabiá?

Acho que vou escrever um poema falando de amor nas palmeiras do Polo Sul.

Mas as coisas devem fazer sentido – né?! – Nada no mundo pode carecer de sentido.

Nossas pernas devem estar pregadas em nossos pés e devemos andar.

E seguir amando.

Curtume de amor amado és.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Una mostra mais uma vez do que é capaz


    Muita coisa está acontecendo de uma só vez; é preciso ter dois ou três cérebros para dar conta de tudo! Primeiro, veio a Copa do Mundo, prendendo a atenção de todas as pessoas normais e anormais ao que está a acontecer na África do Sul; de repente, quando todos estão enfeitando as ruas com bandeirinhas juninas verdes e amarelas, numa mistura de São João com Mundial de futebol, vem uma enchente para levar a cidade a declarar estado de calamidade pública; e, terceiro, recebo a notícia da morte de José Saramago, fato que me deixou meio desnorteado.
    A situação parece aqueles filmes neoapocalípticos, onde de tudo acontece ao mesmo tempo. Parece que o fim do mundo se antecipou, de 2012 para agora.
    Hoje, nas ruas do centro de Palmares, cidade que já sofre com o desemprego, pobreza e falta de vida para a população, está se repetindo o que aconteceu na inesquecível cheia do ano 2000, se não me falha a memória ocorrida entre os dias primeiro e segundo de agosto. Enquanto escrevo isto, as águas do rio Una sobem sem parar. Comerciantes, desesperados, tentam proteger seus estabelecimentos, levando mercadorias e móveis para onde a água não alcance. Moradores das áreas de risco (está parecendo matéria de jornal!) carregam toda a mobília para andares mais elevados ou para locais longe da cheia. Caminhonetes, carros-de-mão, carroças-de-burro são usadas na tarefa, dependendo das condições financeiras do morador afetado. Uns, retiram seus pertences antes da água chegar; outros, retiram-nos já andando dentro da água, barrenta como a feroz correnteza do rio.
    Os arredores das ruas afetadas estão repletos de gente com sombrinhas e guarda-chuvas, são os curiosos, de todos os bairros, que vão assistir à fúria da natureza. Alguns motoristas tentam passar por dentro da água e, na área mais profunda, o carro “pifa”. Descem, empurram o veículo com ajuda de outras pessoas, põe-no em algum recanto, perto de outros carros “pifados”.
    Motos vão e vêm, bicicletas passam por todos os lugares; formam-se pequenos engarrafamentos, o caos é total. De vez em quando um helicóptero sobrevoa a cidade. Caro Saramago, agora posso falar contigo quando escrevo; todas essas cenas lembram-me o teu livro Jangada de Pedra!
    No texto abaixo eu disse que a previsão para amanhã era de 5% de probabilidade de chuva. Subiu, agora são 90%. Se a água continuar a subir, invadirá o Cine Teatro Apolo, inaugurado a exatos nove dias, e o destruirá mais uma vez. Eu estive lá e senti o cheiro da tinta nova nas paredes; agora, corre-se o risco de as mesmas terem cheiro de lama. A catedral, pelo menos, está em reforma – tremenda reforma –; não há o que se destruir nela.

Sobre as últimas chuvas

    São 07h35 de 18 de junho de 2010. Desde as 21h00 de ontem, chove sem parar. Tive notícias de que Catende teve graves deslizamentos de barreiras e inundações em partes da cidade. Alguns lugares da pobre Zona da Mata já têm vítimas fatais e, provavelmente, a cidade que mais sofre neste instante é Cortês.
    Palmares está em alerta, o nível do Uma sobe bastante e a previsão é de receber cada vez maior volume de água já que nas áreas a oeste do rio chove há horas e os afluentes estão com cheia. Além do mais, a lembrança do que aconteceu em 2000 ainda está fresca. Até em Santa Cruz do Capibaribe a chuva não deu trégua, levando o rio Capibaribe, que lá vive seco, a ter uma cheia. Chegou a cair raios ontem na capital da sulanca.
    No Recife todos sabemos a situação. Está naufragando, mergulhando em água e num caos total, levando todos nós a fazer a exclamação feita hoje por um jornal pernambucano: “Imagine a Copa aqui!”
    Abaixo, segue-se uma imagem de satélite gerada há pouco tempo, onde se vê a densa camada de nuvens que cobre parte do estado, provocando todas essas precipitações. Mas, segundo o INPE, a probabilidade de chuva para amanhã é de apenas 5%.



quinta-feira, 17 de junho de 2010

Não sei desenhar

    As pessoas pensam que eu sei desenhar, mas a verdade é que não sei de jeito nenhum. Minhas notas em artes eram as mais altas do colégio, os professores viviam me convidando para fazer cartazes, pintar quadros, cheguei a ser premiado pela qualidade de alguns desses trabalhos, mas, definitivamente, não sei desenhar.
    O fato é que apenas sei controlar bem a direção da mão, levando-a a traçar linhas, pontos ou manchas sobre uma superfície em geral plana, tendo como resultado final algo que agrada os olhos das pessoas. O setor do meu cérebro responsável pela criação é capaz de estabelecer sincronia perfeita com esta mão direita que vos escreve, guiando-a milimetricamente na representação de figuras vistas, lembradas ou criadas por mim. O conhecimento que tenho de geometria também ajuda muito a fazer com que todo mundo pense que sei desenhar.
    Só que não domino a técnica, nunca estudei desenho (por não haver onde), não tenho uma especialidade de traços, como a maioria dos desenhistas tem. Portanto, não me peçam para fazer desenhos para vocês, e não adianta dizer que me pagarão bem.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

A filosofia de PC Siqueira

    Sou grande admirador do pensamento desse importante filósofo que, como Sócrates, nada escreveu (até agora), transmite sua sabedoria unicamente pela linguagem oral. Acho que os antigos filósofos gregos fariam como PC Siqueira se, antes de Cristo, já existisse Webcams, Internet e YouTube. Que ideias estou tendo! Querendo que há dois mil e quatrocentos anos já tivessem sido inventadas coisas que, quando nasci, nem se sonhava que um dia fosse existir! Estou quase falando igual ao PC Siqueira!
    Sem mais delongas. Assistam ao vídeo abaixo e apreciem também essa riquíssima sabedoria.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Quando o frio do inverno chega

    É ótimo quando o frio do inverno chega, entre os meses de junho a agosto, e com ele as chuvas. Aqui, o frio vem úmido como o fundo dum rio e não é tão intenso. Enfim, podemos nos vestir de verdade e elegantemente e fazer as mais variadas combinações de casaco sobre camisa, golas espessas envolvendo o pescoço, camisa abaixo de outra camisa aberta, colete ou paletó de tweed, da forma que a criatividade ditar.
    Além disso, parece que o frio nos deixa mais criativos, fortalece nossa introspecção, nos deixa mais calmos e com certeza melhora nossa disposição para realizar trabalhos manuais.
    Eu, que sou meio astrônomo, preciso ver as estrelas. Todavia, não me importo com o fato de nessa época do ano o céu está nublado na maioria dos dias. É minha estação predileta. Seria o outono, se aqui o houvesse. Não havendo, que seja o inverno mesmo.

Por que outro blog

    Nada tem a vida tão curta quanto um texto publicado no Twitter. Tão curta é quanto a extensão do pensamento: 140 caracteres. Um tweet, ou “piu”, morre quando deixa de aparecer entre os primeiros da página “Profile”. Clicar no botão “More” é visitar o cemitério dos nossos tweets, isso quando o leitor se submete a tamanho trabalho.
    Pensando nisso, criei este blog. Aqui, escreverei o que, antes, eu escrevia em forma de sequência de tweets. Por que simplesmente não atualizar o blog Discovery, em vez de abrir outro?, pode alguém perguntar. É que, no Discovery, optei por publicar somente trabalhos mais densos em conteúdo e extensão. Não pretendo enchê-lo de blá, blá, blá; todo o meu blá, blá, blá ficará aqui, de modo que pode ser lido com maior facilidade e facilmente localizado em futuras pesquisas na opção “Arquivo”, localizada ao lado.
    O nome de ambos os blogs é uma homenagem aos ônibus espaciais da Nasa, fabulosos veículos pelos quais sou apaixonado desde antes de aprender a falar.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Compreender o simbolismo

Estou cada vez mais convencido de que o significado simbólico das coisas é algo completamente incompreendido pelas mentes analfabetas. O analfabeto pode ser, sim, apenas educado pelas acepções simbólicas que os letrados criaram para dominar as mentes simples, mas jamais podem "sentir" o peso do saber histórico, filosófico ou cultural emanado por algum significado simbólico.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sobre o novo CD da Sandy

Não gostei do novo CD da Sandy. Não tem nada de original nele, assim como no clipe da música principal. Faltou criatividade inovadora.

Se eu fosse dar um recado à Sandy, diria que precisamos deixar a loucura se soltar em nós, que é da loucura donde brotam as grandes ideias. A normalidade a nada leva e nada produz.